quinta-feira, agosto 26, 2010

"DESEJO QUE DESEJES"

Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido, desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados. Mas desejo também que desejes com audácia, que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração, mas os mantenha acesos, livres de frustração, desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras, que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe e desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer e que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro, eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.Mas desejo também que desejes uma alegria incontida, que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos, basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar, que desejes o bar tanto quanto a igreja, mas que o desejo pelo encontro seja sincero, que desejes escutar as histórias dos outros, que desejes acreditar nelas e desacreditar também, faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas, que desejes não ter tantos desejos concretos, que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.Desejo que desejes alguma mudança, uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma, mudanças são temidas, mas não há outro combustível pra essa travessia. Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados, que nada fique por fazer, e desejo, principalmente, que desejes desejar, que te permitas desejar, pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente, não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis, aplausos, mais dinheiro e sentimentos vários, mas desejo antes de tudo que desejes, simplesmente."

terça-feira, agosto 24, 2010

é tudo muito complexo

Que saco essa pressão cultural que exige que as mulheres sejam damas e possuam alguem ao seu lado, mulher com 30 anos que nao casou ou nao tem namorado algum defeito tem!!!

Esse padrao sufoca agunia, tudo que é obrigatório é sem sombra de duvidas mais dificil e sem graca, talvez por isso eu tenha resolvido dar um tempo para minha cabeca e para meu coracao e optado ficar só.

Conheço varias amigas que estão ao lado de alguem sem nem saber porque, simplesmente pq assim é melhor, mais comodo, mais tranquilo, é mais facil resolver um problema a dois, dividir fardos, contas ...

Decididamente, pra mim isso nao serve, nao consigo me imaginar ao lado de alguem sem ter mais vontade de estar, simplesmente pela mera acomodacao, ou por exigencias externas.

Já ouvi a barbarie que é melhor casar e divorciar, do que se manter solteira eternamente, meu!!! como alguem consegue pensar em começar algo que envolve sentimento, parceria, conspiracao, com data de validade, sabendo que é apenas uma etapa a ser cumprida????

Sozinha, é possivel ser vc mesma, sem ficar tentando agradar ou se moldar a padroes ou preferencias exigidas por quem esta ao seu lado.

Se eu estiver afim de ficar loira, morena, ruiva, ou cortar o cabelo "joaozinho" eu simplesmente faço, que alivio poder pintar as unhas da cor do esmalte que bem entendo, sem ficar preocupada com criticas ou repreensoes.

Usar aquele decote que todo mundo olha, ou simplesmente sair de pantufa para buscar cigarros, ou usar aquele moletom que me deixa enorme de gorda, sem criticas, simples assim.

O grande problema dos relacionamentos é esse, essa mania de agradar que se torna obrigacao, ta tudo errado.

afinal se alguem se apaixona por vc, é pq vc é como é, mas interessante é que com o passar do tempo vamos nos moldando e passamos a nao ser mais nós mesmos.

Esquecem que nos dias atuais nós temos que aos 30 anos estarmos com uma carreira estruturada, conseguindo pagar nossas contas, ficar ate tarde em reunioes ou cumprindo prazos exigidos pelo nosso trabalho.

E mesmo assim ainda temos que estar magras, lindas arrumadas e com unhas feitas. ainda assim temos que ser a filha presente, a amiga para todas as horas, a namorada perfeita ... aff é muita pressao para o meu gosto.

Ta tudo errado, tudo tao complicado que a melhor opcao no momento é ficar só e tentar entender a si mesma, adaptada em um mundo que esta cada vez mais confuso.

Um mundo onde os amores viraram negocios, transacoes comerciais, na base da mediação, da obrigacao de ceder em prol de outra coisa ou na obrigacao de agradar para evitar atrito....

O não texto

Você não está lendo um texto. Você está dormindo numa rede, atravessando um farol, comprando um porta-clipes, fazendo arroz integral, prendendo os cabelos, assistindo doctor House, vendo sua cachorra espreguiçar. Sei lá, qualquer coisa. Mas você não está lendo esse texto.
Eu também não estou escrevendo pela trigésima vez sobre gostar de alguém. E tentando entender todos os 567 contras e 876 a favor. E tentando metaforizar um cheiro, um olhar, uma frase. E tentando descrever minha dor só para dar a ela algum patamar mais interessante do que a simplicidade de uma simples dor. E tentando supervalorizar minha alegria, só para dar a ela um gosto de vitória como se jamais fosse cotidiano ser feliz.
Eu não estou de frente para uma folha em branco. Tentando tornar meus personagens mais interessante e meus sentimentos mais nobres. Eu estou de frente para eles, vendo que meu personagem pode ser sem graça e meu sentimento pode estar morrendo.
Este é um não texto porque cansei da minha covardia em me contar um mundo que eu invento para viver melhor. Cansei de me contar um personagem só para que suspirar não seja um simples movimento involuntário. Cansei de me contar uma história linda, só para que os dias não corram sem magia e sem a certeza de um grande final de filme.
Imagina só que vida chata se eu, ao invés de escrever um texto de amor, cheio de esperança, profundidade, dor, maluquice, tesão, estivesse escrevendo um texto assim: e ninguém é interessante e eu, pra ser sincera, não gosto de ninguém.
Triste, muito triste. Chato. E pior do que tudo isso: anti-literário. Como é que um escritor vai se sustentar com um coração vazio?
Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele.
Recebo e-mails de muita gente que me fala “que coragem escrever assim sobre o amor”, “que coragem ir tão fundo na sua dor”, “que coragem sentir tantas coisas a flor da pele”. Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade.
Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal?
Este é um não texto. Pra falar de um não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia, invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas, frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser real.
A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou construção literária.
" Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto,
Mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas
renúncias e loucuras, alguém me valoriza
pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons sentimentos
que a vida proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
que é meu sentimento...e não brinque com ele."

segunda-feira, agosto 23, 2010

Mulheres do Topo da Arvore

“As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos. Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados… Elas têm que esperar um pouco mais para o homem certo chegar… aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore”.

(Machado de Assis)

Manual da Mulher Bem Resolvida

1) Se ele se interessou, ele liga!

É isso mesmo. Quando o cara quer, não tem falta de tempo, projeto importante, morte da tia ou trâsito maluco que o impeça de te convidar para sair.

2) Passou uma semana sem ouvir notícias dele?

Esqueça, parta para outro! Ligar para saber se está tudo bem, nem pensar Homem que está perdido merece ser encontrado morto no apartamento, e pelo zelador do prédio.

3) Vocês saíram e ele não ligou mais.

Foi porque você deu? Ou foi porque você não deu? Na verdade, pouco importa. Se o que ele estava a fim era de sexo, e rolou, ótimo! Sexo é como pizza: é bom até quando é ruim. Mas se você não deu, ele provavelmente não te procurou mais porque achou que ia dar muito trabalho. Ou seja, pare de se atormentar porque transou ou não! Duas lições: dar uma de difícil depois de uma certa idade já era. É ridículo fazer tipo.E, além do mais, você vai se arrepender de ter dado ou de não ter dado.

4) Homem comprometido?

Diga não! A relação dele está em crise, só falta oficializar o fim? Ótimo! Se ele quiser continuar infeliz, dane-se! Senão, ele termina de uma vez e depois te procura. Combinado?

5) Ouviu aquela clássica: “Você é boa demais pra mim!”?

Acredite! é mesmo! Descarte o cidadão e pare de bancar a Madre Tereza de Calcutá.

6) Não tente!

Não dá para namorar um cara pelo qual você não tem um mínimo de admiração.

7) Ele te traiu?

Não continue com um cara que te chifrou, se você não aguentar a onda de ser traída de novo. E olho vivo, se ele já foi infiel com outras. A gente sempre acha que com a gente vai ser diferente. Esqueça! Nunca é! E atenção: a fila anda!

Teste da Cor da Aura

achei um teste bem interessante sobre a cor da aura, pior que o resultado tem tudo a haver por isso achei que valhe a pena publicar rs
é só clicar no link

Segue meu resultado:

DOURADO-PROVEDOR

O maior talento de quem tem a aura dourado-provedor é a capacidade de perceber as necessidades mais profundas dos outros, as quais, por qualquer motivo, não podem ser verbalizadas. Por isso mesmo, o dourado-provedor sente-se mais feliz quando trabalha em grupo. É compassivo, amoroso e generoso. Mentalmente, é muito meticuloso: verifica todos os seus passos, sempre em busca de erros ou omissões. É muito requisitado socialmente, pois costuma alegrar qualquer ambiente em que se encontre. É um admirável parceiro: bom amigo, bom pai (mãe), amante delicado. Sua grande missão na vida é prestar serviços humanitários a seus vizinhos, à sua cidade e país.

quinta-feira, agosto 19, 2010

Opinião da Marília Gabriela sobre a Dilma

Quem tem medo da "doutora" Dilma?

VOU CONFESSAR: Morro de medo de Dilma Rousseff.
Esse governo que tem muitos acertos, mas a roubalheira do governo do PT e o cinismo descarado de LULA em dizer que não sabia de nada nos mete medo.
Não tenho muitos medos na vida, além dos clássicos: de barata, rato, cobra.
Desses bichos tenho mais medo do que de um leão, um tigre ou um urso, mas de gente não costumo ter medo.
Tomara que nunca me aconteça, mas se um dia for assaltada, acho que vai dar para levar um lero com os assaltantes (espero). Não me apavora andar de noite sozinha na rua e, não tenho medo algum das chamadas "autoridades", só um pouquinho da polícia, mas não muito.
Mas de Dilma não tenho medo; tenho pavor !
Antes de ser candidata, nunca se viu a ministra dar um só sorriso, em nenhuma circunstância. Depois que começou a correr o Brasil com o presidente, apesar do seu grave problema de saúde, Dilma não para de rir, como se a vida tivesse se tornado um paraíso.
Mas essa simpatia tardia não convenceu.
Ela é dura mesmo!
Dilma personifica, para mim, aquele pai autoritário de quem os filhos morrem de medo, aquela diretora de escola que, quando se era chamada em seu gabinete, se ia quase fazendo pipi nas calças, de tanto medo.
Não existe em Dilma um só traço de meiguice, doçura, ternura.
Ela tem filhos, deve ter gasto todo o seu estoque com eles e não sobrou nem um pingo para o resto da humanidade. Não estou dizendo que ela seja uma pessoa má, pois não a conheço; mas quando ela levanta a sobrancelha,aponta o dedo e fala, com aquela voz de general da ditadura no quartel, é assustador. E acho muito corajosa a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, que enfrentou a ministra afirmando que as duas tiveram o famoso encontro. Uma diz que sim, a outra diz que não, e não vamos esperar que os funcionários do Palácio do Planalto contrariem o que seus superiores disseram que eles deveriam dizer. Sempre poderá surgir do nada um motorista ou um caseiro, mas não queria estar na pele da suave Lina Vieira. A voz, o olhar e o dedo de Dilma, e a segurança com que ela vocifera "suas verdades", são quase tão apavorantes quanto a voz e o olhar de Collor, quando ele é possuído. Quando se está dizendo a verdade, ministra, não é preciso gritar; nem gritar nem apontar o dedo para ninguém. Isso só faz quem não está com a razão, é elementar. Lembro de quando Regina Duarte foi para a televisão dizer que tinha medo de Lula; Regina foi criticada, sofreu com o PT encarnando em cima dela - e quando o PT resolve encarnar, sai de baixo. Não lembro exatamente de quê Regina disse que tinha medo - nem se explicitou-, mas de uma maneira geral era medo de um possível governo Lula. Demorei um pouco para entender o quanto Regina tinha razão. Hoje estamos numa situação pior, e da qual vai ser difícil sair, pois o PT ocupou toda a máquina, como as tropas de um país que invade outro. Com Dilma seria igual ou pior, mas Deus é grande..

Nem tudo é fácil

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!

O guardador de rebanhos

IX
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

O guardador de rebanhos

II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo…
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar…

O guardador de rebanhos

III
Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos…
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros…

O guardador de rebanhos

IV
Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme…
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos…
Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
Pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém…
Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou…
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranquilamente, como o muro do quintal;
Tendo ideias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor…
Sentia-me alguém que possa acreditar em Santa Bárbara…
Ah, poder crer em Santa Bárbara!
(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)
(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?… Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos…
Poderia julgar que o sol
É Deus, e que a trovoada
É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós…
Ali, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)
E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz…
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega…

O guardador de rebanhos

V
(...)
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
(...)
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendome,
Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
(...)
E por isso eu obedeçolhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeçolhe
a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamolhe
luar e sol e flores e árvores e montes,
E amoo
sem pensar nele,
E pensoo
vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora. (p. 3941)


VI
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amarnosá
fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E darnosá
verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!... (p. 42)

O guardador de rebanhos

VIII


Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte, tornado outra vez menino,
a correr e rolar-se pela erva e arrancar flores para as deitar fora,
e a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso de mais para fingir-se de segunda pessoa da Trindade
(...)
Um dia em que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar, ele foi a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro, fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo, criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro, criou um Cristo eternamente na cruz e o deixou pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois, fugiu para o sol e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje, vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita, de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba frutas dos pomares,
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam,
E que toda gente acha graça,
Corre atrás das raparigas que vão em ranchos pelas estradas,
com as bilhas às cabeças e levanta-lhes as saias.

A mim, ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
aponta-me todas as coisas há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem nas mãos
E olha devagar para elas.

(...)


...................................................................................

Ele mora comigo na minha casa, ao meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano, que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso, que eu sei com toda certeza,
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana, que é divina,
É esta minha cotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo, que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo,
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando, e rindo, e gozando nosso segredo comum que é o de saber por toda parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar, é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro,
Na companhia de tudo,
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois,
Como um acordo intimo,
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer, brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois, eu conto-lhe histórias de coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam no fundo do mar dos altos mares.
Porque ele sabe que a tudo isso, falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
W que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer os olhos e os muros caiados.

Depois ele adormece, e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas pro ar,
Põe uns em cima dos outros,
E bate as palmas sozinho,
Sorrindo para o meu sono.

...................................................................................

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa,
Despe-me meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.

...................................................................................

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Símbolos

Símbolos? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo,
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos.
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas,
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria — pobre figura de miséria e desamparo! —Que o namorado voltasse para a costureira

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei.

Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê, quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo, torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo é do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li o que julguei que senti.

Releio e digo : "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu.

Para Viver um Grande Amor

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.


Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

terça-feira, agosto 17, 2010

*ÁRIES* (de 21 de março a 20 de abril)

Branca, preta ou amarela
A ariana zela.
Tem caráter dominador
Mas pode ser convencida
E aí, então, fica uma flor:
Cordata... E nada convencida.
Porque o seu denominador
É o amor.

*TOURO* (de 21 de abril a 20 de maio)

O que é que brilha sem
Ser ouro? - A mulher de touro!
É a companheira perfeita
Quando levanta ou quando deita.
Mas é mulher exclusivista
Se não tem tudo faz a pista.
Depois que dona de casa...
E a noite ainda manda brasa.
Sua virtude: a paciência
Seu dia bom: a sexta-feira
Sua cor propícia: o verde
As flores dos seus pendores:
Rosa, flor de macieira.

*GÊMEOS* (de 21 de maio a 20 de junho)

A mulher de gêmeos
Não sabe o que quer
Mas tirante isso
É uma boa mulher.
A mulher de gêmeos
Não sabe o que diz
Mas tirante isso
Faz o homem feliz.
A mulher de gêmeos
Não sabe o que faz
Mas por isso mesmo
É boa demais...

*CÂNCER* (de 21 de junho a 21 de julho)

Você nunca avance
Em uma mulher de câncer.
Seu planeta é a lua
E a lua, é sabido,
Só vive na sua.
É muito apegada
E quando pegada
Pega da pesada.
É a mulher que ama
Com muito saber
No tocante à cama
Não sei lhe dizer...

*LEÃO* (de 22 de julho a 22 de agosto)

A mulher de leão
Brilha na escuridão.
A mulher de leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.
A mulher de leão não tem perdão.
As mulheres de leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Ígneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais

*VIRGEM* (de 23 de agosto a 22 de setembro)

Se Florence Nightingale era Virgem
Não sei... Mas o mal é de origem.
A mulher de virgem aceita a amante
Isto é: desde que não a suplante.
Sexo de consumo, pães-de-minuto
Nada disso lhe há de faltar
O condomínio é absoluto
A virgem é mulher do lar.
Opala, safira, turquesa
São suas pedras astrais
Na cuca muita esperteza
Na existência muita paz.

*LIBRA* (de 23 de setembro a 22 de (outubro)

A mulher de libra
Não tem muita fibra
Mas vibra.
Quer ver uma libriana contente?
Dê-lhe um presente.
Quando o marido a trai
A mulher de libra
balanças, mas não cai.
Se você a paparica
Ela fica.
Com librium ou sem librium
Salve, venusina
Que guarda o equilíbrio
Na corda mais fina.

*ESCORPIÃO* (de 23 de outubro a 21 de novembro

Mulher de escorpião
Comigo não!
É Abelha Mestra
É a Viúva Negra
Só vai de vedete
Nunca de extra.
Cria o chamado conflito
de personalidades.
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana
tirana tirana.
Agora, de cama diz
que é boa paca.

*SAGITÁRIO* (de 22 de novembro a 21 de dezembro)

As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide...
- Também, quem gosta de censura!

*CAPRICÓRNIO* (de 22 de dezembro a 20 de janeiro)

A capricorniana é capricornial
Como a cabra de João Cabral.
Eu amo a mulher de capricórnio
Por que ela nunca lhe põe os próprios.
A caprina é tão ciumenta
Que até o ciúmes ela inventa.
Mulher fiel está aí: é cabra
Só que com muito abracadabra.
Suas flores: a papoula e o cânhamo
De onde vem o ópio e a maconha
Ela é uma curtição medonha
Por isso nos capricorniamos.

*AQUÁRIO * (de 21 de janeiro a 19 de fevereiro)

Se o que se quer é a boa esposa
A aquariana pousa.
Se o que se quer é uma outra coisa
A aquariana ousa.
Se o que se quer é muito amor
A aquariana
É a mulher macho sim senhor.
Porém não são possessivas
Nem procuram dominar
Ou são meigas e passivas
Ou botam para quebrar.

*PEIXES* (de 20 de fevereiro a 20 de março)

Mulher de Peixe... peixe é
Em águas paradas não dá pé
Porque desliza como a enguia
Sempre que entra numa fria.
Na superfície é sinhazinha
E festiva como a sardinha
Mas quando fisga um namorado
Ele está frito, escabechado.
É uma mulher tão envolvente
Que na questão do Paraíso
Há quem suspeite seriamente
Que ela era a mulher e a serpente.
Seu Id: aparentar juízo
Seu Ego: a omissão, o orgulho
Sua pedra astral: a ametista
Seu bem: nunca ser bagulho
Sua cor: o amarelo brilhante
Seu fim: dar sempre na vista.

Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)

Quintana por Quintana

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não astava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.

POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

O que se leva da vida é a vida que agente leva

Ando meio sem inspiração para escrever, talvez sejam minhas novas madeixas loiras, sabe como é o efeito da amônia nos neuronios rs, entao resolvi publicar o texto roubado do blog da minha prima, mesmo pq a experiencia nao muito agradavel foi compartilhada, achei interessante, pois o ponto de vista é similar, portanto é o que se segue:


Durante minhas férias, passei por uma experiência nada boa, fui assaltada. Levaram tudo que eu tinha, ou melhor, eu achava que só tinha aquilo, que só aquilo tinha valor. Netbook, câmera, celular, pares de tênis, dinheiro, etc. Coisas que a gente pensa que não pode viver sem. Eu também pensava assim, até receber uma visita. A morte veio me visitar, e ficou sentada perto de mim e da minha família enquanto bandidos miravam suas armas em nossas cabeças. Ela tentou chegar perto dos gatilhos, eu sei. Algo a impediu, algo sobrenatural, algo maior que tudo. E assim, após de duas horas e meia de desespero, e choros sufocados para não comprometer a vida de ninguém, a morte resolveu ir embora. E levou com ela um sentimento, o materialismo.
De uma certa forma, os dias após esse acontecimento foram uns dos melhores da minha vida. Admito que chorei, como nunca, mas foi de felicidade, ou de agradecimento. Olhar o sol se pondo, mais um dia, escutar uma música bonita, sentir o vento batendo no rosto, não tem coisa melhor no mundo. É uma sensação estranha, é meio que inacreditável, mas eu poderia estar morta, eu poderia não poder mais sentir tudo o que eu estou sentindo. E lembrar de cada momento de desespero, cada objeto sendo roubado, já não importa tanto. Eles levaram tantas coisas que eu não precisava, que não eram necessárias pra sobrevivência. E o que tinha de mais valor naquela casa eles não levaram, as nossas vidas.
Portanto, eu não quero mais esperar que algo desse tipo aconteça de novo pra viver, pra sentir, pra aproveitar. Da próxima vez pode não ser um aviso, e eu vá mesmo. E depois vai ser tarde demais pra me arrepender, e querer viver. A vida passa depressa, e você sempre pensa que não vai ser com você, que você vai viver 100 anos, e vai morrer dormindo de velhice. A vida não é assim, o que a gente escolhe não é sempre o que acontece.

segunda-feira, agosto 09, 2010

In Vino Veritas

A primeira bebida (alcoólica!) do homem, ainda adolescente, é a cerveja. É barato e fraquinha. Depois vem o chope. Se você tem mais de 50, passou pela Cuba Libre (Coca-Cola com rum) e pelo Hi-Fi (Crush com vodka), numa época embalada por boleros e baladas. Besame Mucho e me paga um Cuba, tesão?

O uísque vem logo depois. Ainda na universidade é nacional mesmo, pela falta de grana. Mas depois vai se sofisticando para o escocês. E, quem pode, começa a pedir por 8, doze anos.

Mais idosinho, tem uns que caem no gim logo pela manhã, perigosíssimo. E quem quer beber escondido da mulher toma vodka porque não deixa cheiro.

A esta altura o homem, bebendo há quarenta anos, tomou (por baixo) 2.080 litros de álcool puro. Uma piscina, o tamanho do porre. É quando ele começa a sentir o fígado dando alarme e inicia o processo de volta aos fermentados e descobre o vinho. Dizem os médicos (pelo menos os médicos que bebem) que um copo de vinho por dia faz bem à saúde. Quem sou eu para duvidar?

O vinho é a cerveja da terceira idade (dizem que na quarta, volta a ser a cachaça pura) e o sujeito se torna um sofisticado. Todo mundo que toma vinho fica metido a besta. Metido a entender de regiões, de safras, de anos e até mesmo de rolhas. Ninguém toma um vinho impunemente. Há de se tornar um expert em uvas. O fígado agradece. Em viagens para a Europa começa a fazer circuitos de vinhos, vira um degustador, um homem fino.

O que eu não consigo entender é porque os jovens já não começam pelo vinho e ficam nele a vida toda. Talvez seja porque o jovem queira ficar de barato rapidinho. É preciso encher muito a cara para descobrir os prazeres do vinho, depois de quarenta anos de adegas da vida.

Estou falando de vinho tinto, é claro, porque o branco é coisa só para vernissage e noite de autógrafos. E o rosê, bem o rosê é coisa de viado mesmo.