quarta-feira, setembro 29, 2010

Quando Ficar Sozinho é Bom

Um dos motivos fundamentais que gera ansiedade e tristeza em se ficar só está relacionado com a questão da escolha.

Dificilmente, as pessoas escolhem ficar sós, elas são deixadas sós...

Desde pequenos, a idéia de " ficar só " nos é passada apenas como algo ruim e vinculada a pessoas que não conseguem ser amadas ou aceitas, à dificuldade que têm de viver em relação e assim por diante.

E, assim, "crescemos", rejeitando e temendo a solidão, jamais vendo nela um caminho.

Não é raro conhecermos pessoas que fogem dela a maior parte do tempo e, ironicamente, elas mesmas a geram. E, justamente por temê-la, justamente por vê-la apenas como um estigma e uma situação injusta, essas pessoas são "deixadas sós".

Quando você é deixado só, o mundo perde o encanto e a vida perde em prazer. Torna-se difícil achar graça no que é só seu. Parece que a criança que existe dentro de cada um reclama por uma platéia que a aplauda, que confirme sua existência.

Entretanto, se você opta por ficar só, por reconhecer que este é o melhor caminho, naquele momento, a vida e o que o cerca não perdem a cor, pelo contrário, tomam nuances desconhecidas e libertadoras.

De repente, você pode estar pensando: “Mas eu não acredito que alguém queira ficar só! “

Você se esqueceu do que foi dito? É uma questão de escolha, escolha assumida, e não um mero querer por querer.

E, na vida, existem vários momentos em que esta escolha pode ser muito boa. Não sei se você vai concordar comigo, mas aí vão algumas situações:

· Quando você prefere ficar só a fazer o que não lhe dará prazer, mas somente ao outro.

· Quando você se despede de alguém que faz com que você se sinta sozinho, apesar de acompanhado.

· Quando você está à procura de si mesmo, de suas verdades, de seu centro.

· Quando você quer se sentir livre, dar força aos seus desejos e sair da gaiola.

· Quando você quer perder o medo de não conseguir viver sem alguém ao seu lado.

· Quando você termina um relacionamento e precisa de um intervalo para reconstruir seus valores, antes de se envolver novamente.

Entretanto, antes de qualquer coisa, você tem que sentir a necessidade desta escolha, em função de seu bem-estar.

Fica difícil reconhecer as vantagens deste momento, quando o outro nos deixa, quando não temos metas, quando desqualificamos nossas necessidades e desejos, quando não nos apropriamos de nossa história, quando só sabemos viver em função de alguém, quando brigamos com a realidade e não aceitamos o fato de que podemos nos relacionar e estar com, mas só estar com, e não ser preenchido pelo outro.

Quando a escolha é nossa, porque reconhecemos que, assim, nossa vida será mais saudável, a gente consegue se sentir forte por dentro, aberto para o mundo que é vasto, diverso, rico em situações e trocas e que nos acompanha até o final.

Conselhos de Vida

· Dê mais às pessoas, MAIS do que elas esperam, e faça com alegria.
· Decore seu poema favorito.
· Não: acredite em tudo que você ouve, gaste tudo o que você tem e durma tanto quanto você queira.
· Quando disser "Eu te amo" olhe as pessoas nos olhos.
· Fique noivo pelo menos seis meses antes de se casar.
· Acredite em amor à primeira vista.
· Nunca ria dos sonhos de outras pessoas.
· Ame profundamente e com paixão.
· Você pode se machucar, mas é a única forma de viver a vida completamente.
· Em desentendimento, brigue de forma justa, não use palavrões.
· Não julgue as pessoas pelo seus parentes.
· Fale devagar mas pense com rapidez.
· Quando alguém perguntar algo que você não quer responder, sorria e pergunte: "Porque você quer saber?".
· Lembre-se que grandes amores e grandes conquistas envolvem riscos.
· Ligue para sua mãe.
· Diga "saúde" quando alguém espirrar.
· Quando você se deu conta que cometeu um erro, tome as atitudes necessárias.
· Quando você perder, não perca a lição.
· Lembre-se dos três Rs: Respeito por si próprio, respeito ao próximo e responsabilidade pelas ações.
· Não deixe uma pequena disputa ferir uma grande amizade.
· Sorria ao atender o telefone, a pessoa que estiver chamando ouvirá isso em sua voz.
· Case com alguém que você goste de conversar. Ao envelhecerem suas aptidões de conversação serão tão importantes quanto qualquer outra.
· Passe mais tempo sozinho.
· Abra seus braços para as mudanças, mas não abra mão de seus valores.
· Lembre-se de que o silêncio, às vezes, é a melhor resposta.
· Leia mais livros e assista menos TV.
· Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e olhar para trás, você poderá aproveitá-la mais uma vez.
· Confie em Deus, mas tranque o carro.
· Uma atmosfera de amor em sua casa é muito importante. Faça tudo que puder para criar um lar tranquilo e com harmonia.
· Em desentendimento com entes queridos, enfoque a situação atual.
· Não fale do passado.
· Leia o que está nas entrelinhas.
· Reparta o seu conhecimento. É uma forma de alcançar a imortalidade.
· Seja gentil com o planeta.
· Reze. Há um poder incomensurável nisso.
· Nunca interrompa enquanto estiver sendo elogiado.
· Cuide da sua própria vida.
· Não confie em alguém que não fecha os olhos enquanto beija.
· Uma vez por ano, vá a algum lugar onde nunca esteve antes.
· Se você ganhar muito dinheiro, coloque-o a serviço de ajudar os outros, enquanto você for vivo. Esta é a maior satisfação de riqueza.
· Lembre-se que o melhor relacionamento é aquele em que o amor de um pelo outro é maior do que a necessidade de um pelo outro.
· Julgue seu sucesso pelas coisas que você teve que renunciar para conseguir.
· Lembre-se de que seu caráter é seu destino.
· Usufrua o amor e a culinária com abandono total.

DESEJOS

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

terça-feira, setembro 28, 2010

Mulheres

"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?

E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido.
Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...

O sexto-sentido não faz sentido!

É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!

E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?

E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...

Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?

Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...

É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos?

Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?

Elas conhecem todos...

Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.

EN-FEI-TI-ÇAM !

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.

O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento
que os faz dormir nessa hora."

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Trecho do livro Divã – Martha Medeiros

“Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo.

Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu anti socialismo interno. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e impulsiva . Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos….

Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.

Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também.”

Atraso

Em Londres um pub está fazendo sucesso porque instalou para seus clientes uma cabine telefônica com uma sonorização peculiar: enquanto a pessoa fala ao telefone, pode acessar o som de um congestionamento, com muito buzinaço.

Ou pode acessar o som de um ambiente de escritório. Toda essa parafernália é para que quem esteja do outro lado da linha não identifique o som do bar.

Assim o bebum pode dar uma desculpa esfarrapada e chegar em casa sem levar uma descompostura, afinal, estava trabalhando até tarde, o coitado, e ainda por cima ficou preso num engarrafamento depois.

Essa cabine telefônica com efeitos especiais só vem demonstrar que os bares andam muito moderninhos, mas os casamentos continuam parados no tempo, mesmo na vanguardista Inglaterra. "Só vou se você for" segue na moda. Enquanto isso a hipocrisia deita e rola.

Muitas pessoas ainda têm uma idéia convencional do casamento: encaminham-se para o altar como quem encaminha-se para o supermercado em busca de um produto pronto, industrializado, com um rótulo dando as instruções de como utilizá-lo, e parece que a primeira instrução é: nenhum dos dois têm o direito de se divertir sozinho ou com os amigos, a menos que o cônjuge esteja junto.

Não é de estranhar que os prazos de validade do amor andem cada vez mais curtos.

Não há paixão que resista ao grude.

Não há paciência que resista à patrulha.

Não há grande amor que prescinda de outras amizades.

Sair sozinho para beber com os amigos deveria ser um dos 10 mandamentos para uma união estável, valendo para ambos os sexos. Quem não gosta de bar pode substituir por futebol, cinema, shows, sinuca, saraus ou o que o Caderno de Cultura sugerir.

E não perca tempo lamentando por aquele que vai ficar em casa. Provavelmente ele vai se divertir tanto quanto. Ouvir música, ver televisão, ler livros, abrir um vinho, tomar um banho de duas horas, navegar na internet, dormir cedinho, tudo isso também é um programação.

Quem não sabe ficar sozinho não pode casar, sob pena de transformar o matrimônio num presídio para dois. Tem muita coisa em Londres que eu gostaria de ter aqui: parques mais bem cuidados, mais livrarias, mais respeito à individualidade, melhor transporte público, prédios mais charmosos. Só dispensaria o clima e esse pub pra lá de vitoriano, onde pessoas adultas são incentivadas a inventar um álibi para justificar um atraso.

Atraso é ter que mentir para que o outro não perceba que você está feliz.

Alimento da Alma

Arroz, feijão, bife, ovo. Isso nós temos no prato, é a fonte de energia que nos faz levantar de manhã e sair para trabalhar. Nossa meta primeira é a sobrevivência do corpo. Mas como anda a dieta da alma?

Outro dia, no meio da tarde, senti uma fome me revirando por dentro. Uma fome que me deixou melancólica. Me dei conta de que estava indo pouco ao cinema, conversando pouco com as pessoas, e senti uma abstinência de viajar que me deixou até meio tonta. Minha geladeira, afortunadamente, está cheia, e ando até um pouco acima do meu peso ideal, mas me senti desnutrida. Você já se sentiu assim também, precisando se alimentar?

Revista, jornal, internet, isso tudo nos informa, nos situa no mundo, mas não sacia. A informação entra dentro da casa da gente em doses cavalares e nos encontra passivos, a gente apenas seleciona o que nos interessa e despreza o resto, e nem levantamos da cadeira neste processo. Para alimentar a alma, é obrigatório sair de casa. Sair à caça. Perseguir.

Se não há silêncio a sua volta, cace o silêncio onde ele se esconde, pegue uma estradinha de terra batida, visite um sítio, uma cachoeira, ou vá para a beira da praia, o litoral é bonito nesta época, tem uma luz diferente, o mar parece maior, há menos gente.

Cace o afeto, procure quem você gosta de verdade, tire férias de rancores e mágoas, abrace forte, sorria, permita que lhe cacem também.

Cace a liberdade que anda tão rara, liberdade de pensamento, de atitudes, vá ao encontro de tudo que não tem regras, patrulha, horários. Cace o amanhã, o novo, o que ainda não foi contaminado por críticas, modismos, conceitos, vá atrás do que é surpreendente, o que se expande na sua frente, o que lhe provoca prazer de olhar, sentir, sorver. Entre numa galeria de arte. Vá assistir a um filme de um diretor que não conhece. Olhe para sua cidade com olhos de estrangeiro, como se você fosse um turista. Abra portas. E páginas.

Arroz, feijão, bife, ovo. Isso me mantém de pé, mas não acaba com meu cansaço diante de uma vida que, se eu me descuido, torna-se repetitiva, monótona, entediante. Mas nada de descuido. Vou me entupir de calorias na alma. Há fartas sugestões no cardápio. Quero engordar no lugar certo. O ritmo dos dias é tão intenso que às vezes a gente esquece de se alimentar direito.

sábado, setembro 25, 2010

Felicidade Realista

De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par, e não como ímpares? Ter um parceiro constante não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo às expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com três parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.

Modo de usar-se

"Coitada, foi usada por aquele cafajeste". Ouvi essa frase na beira da praia, num papo que rolava no guarda-sol ao lado. Pelo visto a coitada em questão financiou algum malandro, ou serviu de degrau para um alpinista social, sei lá, só sei que ela havia sido usada no pior sentido, deu pra perceber pelo tom do comentário. Mas não fiquei com pena da coitada, seja ela quem for.

Não costumo ir atrás desta história de "foi usada". No que se refere a adultos, todo mundo sabe mais ou menos onde está se metendo, ninguém é totalmente inocente. Se nos usam, algum consentimento a gente deu, mesmo sem ter assinado procuração. E se estamos assim tão desfrutáveis para o uso alheio, seguramente é porque estamos nos usando pouco.

Se for este o caso, seguem sugestões para usar a si mesmo: comer, beber, dormir e transar, nossas quatro necessidades básicas, sempre com segurança, mas também sem esquecer que estamos aqui para nos divertir. Usar-se nada mais é do que reconhecer a si próprio como uma fonte de prazer.

Dançar sem medo de pagar mico, dizer o que pensa mesmo que isso contrarie as verdades estabelecidas, rir sem inibição – dane-se se aparecer a gengiva. Mas cuide da sua gengiva, cuide dos dentes, não se negligencie. Use seu médico, seu dentista, sua saúde.

Use-se para progredir na vida. Alguma coisa você já deve ter aprendido até aqui. Encoste-se na sua própria experiência e intuição, honre sua história de vida, seu currículo, e se ele não for tão atraente, incremente-o. Use sua voz: marque entrevistas.
Use sua simpatia: convença os outros. Use seus neurônios: pra todo o resto.

E este coração acomodado aí no peito? Use-o, ora bolas. Não fique protegendo-se de frustrações só porque seu grande amor da adolescência não deu certo. Ou porque seu casamento até-que-a-morte-os-separe durou "apenas" 13 anos. Não enviuve de si mesmo, ninguém morreu.

Use-se para conseguir uma passagem para a Patagônia, use-se para fazer amigos, use-se para evoluir. Use seus olhos para ler, chorar, reter cenas vistas e vividas – a memória e a emoção vêm muito do olho. Use os ouvidos para escutar boa música, estímulos e o silêncio mais completo. Use as pernas para pedalar, escalar, levantar da cama, ir aonde quiser. Seus dedos para pedir carona, escrever poemas, apontar distâncias. Sua boca pra sorrir, sua barriga para gerar filhos, seus seios para amamentar, seus braços para trabalhar, sua alma para preencher-se, seu cérebro para não morrer em vida.

Use-se. Se você não fizer, algum engraçadinho o fará. E você virará assunto de beira de praia.

VAMPIROS

Eu não acredito em gnomos ou duendes, mas vampiros existem. Fique ligado, eles podem estar numa sala de bate-papo virtual, no balcão de um bar, no estacionamento de um shopping. Vampiros e vampiras aproximam-se com uma conversa fiada, pedem seu telefone, ligam no outro dia, convidam para um cinema. Quando você menos espera, está entregando a eles seu rico pescocinho e mais. Este "mais" você vai acabar descobrindo o que é com o tempo.

Vampiros tratam você muito bem, têm muita cultura, presença de espírito e conhecimento da vida. Você fica certo que conheceu uma pessoa especial. Custa a se dar conta de que eles são vampiros, parecem gente. Até que começam a sugar você. Sugam todinho o seu amor, sugam sua confiança, sugam sua tolerância, sugam sua fé, sugam seu tempo, sugam suas ilusões. Vampiros deixam você murchinha, chupam até a última gota. Um belo dia você descobre que nunca recebeu nada em troca, que amou pelos dois, que foi sempre um ombro amigo, que sempre esteve à disposição, e sofreu tão solitariamente que hoje se encontra aí, mais carniça do que carne.

Esta é uma historinha de terror que se repete ano após ano, por séculos. Relações vampirescas: o morcegão surge com uma carinha de fome e cansaço, como se não tivesse dormido a noite toda, e você se oferece para uma conversa, um abraço, uma força. Aí ele se revitaliza e bate as asinhas. Acontece em São Paulo, Manaus, Recife, Florianópolis, em todo lugar, não só na Transilvânia. E ocorre também entre amigos, entre colegas de trabalho, entre familiares, não só nas relações de amor.

Doe sangue para hospitais. Dê seu sangue por um projeto de vida, por um sonho. Mas não doe para aqueles que sempre, sempre, sempre vão lhe pedir mais e lhe retribuir jamais

Promessas de Casamento

Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Antes do Casamento

A maior crueldade que uma mulher impõe a um homem é mostrar que não se recupera o que se deixou escapar.
Marca o início de uma longa jornada de lembranças enviesadas e memórias chamuscadas sobre uma vida que poderia ter sido e não foi.
Antigamente, a gente recebia o convite do casamento pelos Correios. Em geral, endereçado aos pais. Ficava sabendo pelos amigos em comum. Lia em letras miúdas no jornal. Com sorte, saberíamos anos depois. Com azar, o filho dela seria colega de classe da sua filha.
Hoje, tem gente mais preocupada com o status no Facebook do que com a benção do padre e o carimbo do cartório. Em vez de saber anos depois, você descobre anos antes. Que ela já se foi. Que ela planeja ir embora. Que ela se vai. Que não pretende voltar.
Os amigos em comum talvez nem existam mais. Tornaram-se desnecessários. Você a lê indo embora aos poucos. Até o dia em que ela se casa e você percebe que ela nunca se foi, você que ficou parado enquanto os anos passavam para ela.
E sua única esperança recai em aderir às crendices tolas de vidas passadas ou debruçar-se sobre tolices ainda maiores de Garcia Marquez ao reler pela onézima vez o reencontro de Fermina Daza e Florentino Ariza.
Com um pedaço de pão velho em frente à televisão quebrada que não funciona há quinze anos, o tempo nem mais parece tão distante assim.
E a gente fica sem entender direito se a tristeza é pelo fato consumado ou por não termos autopiedade sobre a inércia que nos consumiu.
Crentes ou incrédulos, resta sempre a única certeza a imperar no peito dos saudosistas: a certeza do reencontro inesperado, inóspito e decerto intolerante que chegará mais dia ou menos dia.
E se você não teve tempo ou ciência para entristecer-se antes do casamento, terá anos a frente para pensar como será a casualidade de, quinze anos depois de hoje, aquele rosto de menina ter-se desfeito em rugas, a pele macia transformada em flancos e o sorriso sapeca cedido espaço uma testa franzida pela dívida impagável de uma vida monótona e previsível. Mas socialmente feliz, quem sabe?
É o tempo que vai levar para esquecer os diálogos que imaginou ter e as promessas que levou a fazer.
Porque todo o resto ficará incólume. Até que Alzheimer nos carregue.

segunda-feira, setembro 20, 2010

As mulheres que nós amamos

As mulheres que nós amamos não são, necessariamente, as mulheres que nós estamos apaixonados ou para as quais dizemos “eu te amo”. As mulheres que nós amamos não são as mulheres que nós amamos no sentido literal da palavra, mas sim no sentido lato. Até parece complicado, mas não é.

As mulheres que nós amamos se enquadram naquele seleto grupo de mulheres súperas e maravilhosas que passam pelas nossas vidas — e só eventualmente pela nossa cama. Deixam cicatrizes que não envelhecem. Deixam marcas e lembranças que vão servir de mote, até o fim de nossos dias, nas conversas de bar, no trabalho e com a família.
Uma mulher maravilhosa não precisa ser linda e ter um corpo bonito. Na verdade, algumas mulheres maravilhosas fogem do padrão universal de beleza e nem por isso deixam de ser animalidademente desejadas. É algo intrínseco a elas, consciente ou não. Talvez, herança genética. A diferença é o “jeitinho” delas.
Se você, homem bacana e joiado, parar para pensar um pouco, vai conseguir recriar em sua mente todas as mulheres que nós amamos desde a época do ginásio, quiçá do primário. Sempre havia aquela especial, aquela que se destacava entre as demais mesmo não sendo a mais bonita. Na universidade e no trabalho não foi diferente, sempre há aquelas mais desejadas, idolatradas, cortejadas.
Elas nem são lindas, nem têm o corpo mais torneado. São apenas maravilhosas, simplesmente súperas, do jeito delas. Majestodas, são as mulheres que nós amamos porque são únicas.
Elas fazem você acreditar que Deus realmente existe, mas também fazem você ter certeza que nem Deus as entende. Afinal, o que leva tantas dessas mulheres maravilhosas a muitas vezes se apaixonar por um troglodita ou um orangotango, em vez de um cara bacana e joiado feito você, leitor desta coluna?
As mulheres que nós amamos são indescritíveis. Algumas delas carregam aquele jeitinho de menina sapeca; algumas têm aquela voz rouca que deixa você de cabelos em pé; outras possuem uma voz suave e baixinha, que desafiam todo seu poder de contenção.
Outras têm aquele olhar maroto, meio tímida e meio selvagem; aquele sorriso sedutor, aquele andar diferente, aquela conversa cheia de gestos. Às vezes é o senso de humor, o espírito etílico, a inteligência. Não há como provar cientificamente. Só quem entende o que são essas mulheres maravilhosas é quem conhece, quem estuda ou trabalha junto a elas. Quem percebe essas mulheres, se não a gente?
Às vezes, essas mulheres maravilhosas nem gostam da fruta. Preferem maçã em vez de banana. Não importa. Nem por isso elas deixam de ser súperas e musas. E apenas reforçam nossa fé de que, um dia, iremos conseguir (re)convertê-las e mostrá-las que banana tem mais potássio que maçã.
Por mais que você tente ignorá-las, por mais que você tente pensar em outra coisa, por mais que você tente esquecê-las ao chegar em casa, não adianta. Elas continuarão lá. Na mesa da frente no bar, na editoria do concorrente, no escritório vizinho. Às vezes, na cadeira exatamente ao seu lado no trabalho.
O único problema é que nem todas essas mulheres maravilhosas sabem quão maravilhosas elas são. Com certa frequência, se deixam encantar por cidadãos broncos, pocotós. Mesmo assim, elas continuam sendo as mulheres que nós amamos… mesmo quando não nos amam.

domingo, setembro 19, 2010

A mulher fresca

Mulheres adoram fazer analogias históricas, culturais, antropológicas, sociais, econômicas, políticas, geográficas, químicas, filosóficas e metafísicas para classificar os vários tipos de homens existentes no mercado. A gente cansa de ouvir essas classificações em mesa de bar e de ler em revistas.

Com homem as coisas são bem mais simples. Existem apenas três graduações genéricas: a derrubada, a comestível e a filé. É padronizado, que nem linguagem binária. Pode variar a nomenclatura, como trocar ‘derrubada’ por ‘tribufu’ ou ‘bagulho’, mas o contexto é exatamente igual. Existe uma ou outra graduação superior ou inferior às três genéricas, mas cada caso é um caso e a gente se entende bem assim.
No entanto, com a sociedade pós-pós-moderna em ascensão e os efeitos globalizantes cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, a triste verdade é que os homens estão adquirindo muitas das frescuras femininas. Inclusive, sobre classificações sexistas. Estão deturpando demais o meio de campo, criando complexidades em demasia – e desnecessárias. Já vi gente dizer que tem filé nível 1, 2 e 3. Tribufu-chefe, tribufu-sênior e tribufu-júnior. Assim não dá.
O laboratório de experimentos quânticos do cientista-papudinho Super Ranzinza admite, no entanto, uma classificação extra que merece as devidas relevâncias e explicações.
:: FRESCURÁITES CRI-CRI ::
Sob efeitos globalizantes, temos a pior espécie de mulher, abominável na visão de 11 em cada 10 homens: a mulher fresca. É aquela que elegeu a entidade ‘frescura’ como o fundamento sagrado de toda sua existência. Também atende pelo nome de mulher cri-cri.
Ela pode ser bonita, inteligente, boazuda… pode até ser uma deusa. Mas coloca tudo a perder com a frescura excessiva. Sim, porque homem reconhece uma mulher fresca até pelos mínimos detalhes, a quilômetros de distância.
Não tem como disfarçar. Identificamos o jeito de andar, o modo de olhar com desdém quando algo não a agrada, a forma de pegar no copo se tiver uma sujeirinha, a cara de reprovação quando encontra uma formiguinha ou barata na cozinha do bar e, só para completar a desgraça, os constantes monólogos do tipo: eu não gosto disso, não gosto daquilo, não simpatizo com isso, isso não é para gente feito eu, não vou para esses lugares, não ando com gente assim, odeio fumaça, não gosto de lugares vazios, de lugares cheios, de escuro, de doce, de salgado, blá blá blá, pititi patatá pititi patatá patató patatú.
O problema maior não é quando a mulher é fresca, pois nem sempre a culpa é dela. Pode ter sido influência da família, das amigas na faculdade, das companhias do trabalho. Quem sabe, até do namorado. Sim, porque pior do que mulher fresca, só mesmo homem fresco.
O grande viés é quando a mulher fresca sabe que é fresca e faz questão de ser fresca. O mais engraçado é que, se a gente parar e pensar, vai notar que uma razoável parcela dessas mulheres vive reclamando que falta homem no mercado. Oh, santa paciência, iluminai essas coitadas.
O Frei Ranzinza faz a súplica. É justamente por isso que as mulheres sem frescuras se dão tão bem, são tão procuradas e cobiçadas. As sem-frescura podem até não querer namorar, esquematizar, furunfar ou até não querer nada com homem mesmo, mas nunca podem reclamar que não vive chovendo regador querendo cuidar do jardim delas.
Como diz o Arnaldo César Coelho, “a regra é clara”. Homem foge de mulher fresca como o diabo foge da cruz; e corre atrás de mulheres simples como o papudinho corre atrás do copo. E tem mais. Entre uma mulher bonita, porém fresca, e uma mulher derrubada, porém simples, é muito mais fácil escolhermos a segunda.
Agora imagine uma mulher bonita e sem frescura? Ai, ai. Elas existem, sim. E o número está aumentando. Não é à toa que a concorrência anda tão acirrada neste mundo pós-pós moderno, pois finalmente as mulheres estão acordando à realidade crua dos fatos: 1) frescura não leva a nada; 2) os espécimes ranzinzas, cuja paciência zen-bundista com mulher cri-cri é razoável, estão em extinção.
Então, fica o conselho para as mulheres, vindo de quem não tem cacife para dar conselho, muito menos sobre mulheres: procure um ser do sexo masculino, que não seja fresco também, mas que lhe conheça, e pergunte na bucha: “eu sou fresca? Muito ou pouco? Tenho cura? Tenho salvação? Devo me suicidar?”.
Sim, a cura existe e é baseada em fórmulas cabalísticas estudadas durante anos e anos em laboratório. O remédio é parar de andar com suas amigas também frescas e parar de tomar caipirosca achando que é bebida de verdade. Após um mês, não havendo resultados, restará apenas o tratamento de choque: ler a cartilha especializada Métodos Ranzinzas Contra a Frescura, em vias de produção

Corações furtados

Não é chato quando a gente conhece alguém interessante e não dá certo?
Primeiro porque o mundo passa por um acelerado processo de extinção das pessoas razoavelmente interessantes. Tipo, gente que tenha um mínimo de conteúdo para você conversar algo que não seja o resultado do jogo de ontem, a novela de hoje ou as subcelebridades de amanhã.
Segundo porque a maioria das pessoas solteiras sempre tropeça no mesmo pensamento: se demorou tanto para aparecer alguém interessante, quem garante que não irá levar outros duzentos anos até aparecer outra?
São em momentos assim que a porca torce o rabo e a cobra fuma charuto.
Dia dos namorados é quando vemos um monte de gente bonita sucumbindo ao desespero para namorar com o primeiro brucutu que se prontifique a pegar sua mão, levar para passear no shopping lotado, comer uma pizza no domingo à noite, conhecer sua mãe e elogiar aquele estrogonofe que você aprendeu a fazer dez anos atrás na Cozinha Maravilhosa da Ofélia.
O padrão mínimo de exigência fica do tamanho de um piolho e você começa a chamar urubu de meu louro.
É um roubo.

Roubamos oportunidades bem melhores para nossas vidas por causa de umasíndrome ancestral de que somente as pessoas acompanhadas são felizes.
Abrimos mão de explorar lugares e pessoas que se mostrariam muito mais interessantes do que esse jumento pocotó que só faz você sofrer ou ter dor de cotovelo.
Metade (ou mais) dos casais que você conhece são infelizes. Se pudessem, jogariam tudo pela janela. E até podem, sempre podem, mas não querem arriscar trocar seis por meia dúzia. Não é sempre assim?
Então você tenta se afastar dessas pessoas infelizes e depressivas. O tempo passa e, entre idas e vindas, cai do céu a pessoa bem interessante do primeiro parágrafo. Bingo. Vocês até se encontram, vão ao cinema, trocam umas idéias, tomam um café, mas não passa disso.
Talvez ela prefira os brucutus, ninguém sabe. Nem ela mesmo. É outro furto mútuo. Enquanto ela rouba a oportunidade de esperar um pouco mais por algo melhor, você rouba a sua oportunidade de fazer alguma diferença de verdade, em vez de ser peça decorativa.
Porque vai que um dia ela aceita ir além de um café ou cinema? Pode ser por querer abraçar a oportunidade, claro, mas também pode ser por fraqueza, desespero ou falta de opção.
Se você continuar achando que vai levar duzentos anos até aparecer outra pessoa tão interessante quanto, nunca vai saber a diferença entre uma coisa e outra. Vai virar um bibelô. Preenchendo uma lacuna que poderia ser preenchida por qualquer outra pessoa.
Pode ser altruísmo, bobagem ou ingenuidade. Mas é uma das formas para não ficar tão chateado quando não dá certo. Em outras palavras, quando alguém não nos acha tão interessante quanto gostaríamos.
Mas pense assim: depois daquele café ou cinema que não rendeu nada, você vai voltar andando para casa, vai parar no boteco e, como sempre, vai jantar aquele sanduíche de pernil no fiado. Num desses dias, mesmo sem querer, vai terminar esbarrando em outra pessoa ainda mais linda e mais interessante do que umas oito criaturas que você imaginou nunca encontrar mais lindas e mais interessantes.
Não tem mistério, não é destino, nem karma, nem auto-ajuda, religião ou profecia. É só matemática. São 3,5 bilhões de pessoas mundo afora (ou 7 bilhões, se você for bissexual) dando sopa. Se você tiver um pouco de sorte, ela ainda vai gostar de um porquinho na brasa e de bacon no café da manhã.
E vai roubar todas as suas lembranças daquelas pessoas que nunca mereceram a perda do seu tempo de ficar chateado.

Discursos sinceros

O mundo gira, os anos passam, o buraco de ozônio aumenta e as pessoas continuam a acreditar em discursos seculares sem propósito algum.
Vamos nos separar, mas vamos continuar amigos, diz a fulana para as colegas na academia de ginástica. Por mais que você acredite neste discurso, no fundo sabe ser humanamente impossível gostar muito de alguém e vê-la nos braços de outra pessoa e ainda ser aquele amigo para as horas de angústia ou alegria.
É balela do tipo premium.
Convívio civilizado não é amizade. E às vezes é pura necessidade quando há filhos na equação.
Ex-namorados podem ser amantes, nunca amigos. Se forem, na prática é porque nunca sentiram nada realmente comovente ou foi só um passatempo ou namorico de adolescência.
Em geral, um dos dois sempre vai gostar mais do que o outro. E não vai engolir essa de amizade depois que a gente vai embora. Até tentam, mas não leva muito tempo para um dos lados pedir penico e sumir do mapa. A gente conhece outras pessoas, se apaixona novamente, casa e tem filhos, se separa, casa de novo, mas ninguém fica amigo de ninguém.
Se nem Albert Einsten conseguiu decifrar os mistérios matemáticos do tempo, os casais acham que vão conseguir a proeza quando pedem “um tempo”. Metade das vezes, se você pede um tempo é porque está de olho em outra pessoa e quer ter a certeza que vai dar certo com ele (ou ela), nunca é para refletir coisa alguma. Na outra metade das vezes, é um jeito relativamente sincero de dizer que aquilo não vai dar certo em tempo algum.
Em uma pequena parcela das situações, os casais voltam a se encontrar depois do tal tempo. E até tentam se reconciliar. E funciona até o dia em que você descobre que o tempo serviu para um dos lados dormir com 37 pessoas diferentes que vão se transformar em 37 fantasmas iguais.
Mas os dois melhores discursos são mesmo o da fidelidade e o do ex-marido.
Quando uma mulher compromissada vira para você e faz questão de dizer que é “super fiel”, pode pedir a conta do jantar e ir para o motel. É batata.
Se alguém lhe diz que nunca fez “isso” antes, é porque já pulou mais cercas do que as ovelhinhas carnudas de Abrãao no Velho Testamento.
Fidelidade nunca foi um registro em cartório. Se alguém precisa dizer com todas as letras, é melhor você aceitar – ou aproveitar! – porque é exatamente o inverso.
E se a pessoa na sua frente falar mal do ex-marido ou ex-esposa, esqueça. É tesão enrustido, no mínimo. Perceba como todo ex-marido é cafajeste, cachorro, egoísta, não vale um centavo. E toda ex-mulher é louca, surtada, ignorante e ruim de cama.
O mais lógico seria a gente perguntar: e você precisou casar com ele para descobrir?
Nada, foi preciso mesmo casar e ter filhos para descobrir a verdadeira face do mal, do carcará, do anhangá-tinhoso, do cão chupando manga, do belzebu disfarçado de ex-marido.
Mas a gente mantém a civilidade e concorda, faz até coro e dá apoio, principalmente se a divorciada for bonita. Mesmo quando a gente acha que em boca fechada não entra mosquito. Vai que no futuro sobra uma casquinha para você, né?
Não tem jeito, nem assim, todos vão continuar falando mal do ex para todos os novos pretendentes, como se fosse um atestado de interesse por você.
Os discursos são realmente infáliveis e a lista é extensa. Tem o tal do “foi só um beijo”, tem aquele “somos apenas bons amigos”, além do imbatível “foi apenas uma vez” ou “não significou nada”. Geralmente não significa nada mesmo, o problema é definir o grau de intensidade do “nada” para você e para ela.
Às vezes a gente gosta tanto de alguém que ainda acredita nessas pequenas mentiras mesmo quando não acreditamos nem no começo. É o tal do bem maior. Ou do medo de perder, sem entender que às vezes a perda é o nosso maior ganho.
O problema do discurso não são as palavras em si, é a necessidade que as pessoas têm de querer empurrar essas mentiras verdadeiras goela abaixo. Dos outros. É como uma verdade universal oriunda de uma sinceridade que simplesmente não existe.
No dia que a gente aprender a dar menos valor às palavras e mais valor às atitudes, quando uma pessoa abrir a boca para soltar um discurso infálivel você pode voltar para casa com a consciência tranquila por ter ido embora antes de ouvir o resto da história.
Evidente, seria um mundo inalcançável quando as mulheres vão parar de fazer questão de mostrar às amigas o namorado novo, mesmo sem gostar dele. Até esse dia, resta-nos a complacência de ouvir um clássico “não sinto mais nada por você” e ver nos olhos dela que bastaria o som do primeiro pingo de chuva no chão para ela jogar tudo para o alto e entrar no primeiro táxi com você rumo ao desconhecido.
Porque discurso sincero de verdade é aquele que a gente não responde falando. Muito menos escrevendo.
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quinta-feira, setembro 16, 2010

Sorriso à Cabidela

O sorriso sincero de uma mulher é uma experiência tão sublime quanto sua própria silhueta desnuda à meia luz e com vista para o mar.

Porque o sorriso, quando de verdade, é uma expressão ímpar. Não é apenas a boca. São olhos, sobrancelhas, testa, ombros, todos em uníssona harmonia.

E quando somos nós os responsáveis por arrancar um sorriso assim, é difícil não querer um segundo. É quase tão bom quanto aquela última porção de galinha à cabidela que o garçom escondeu para entregar quando você chega no bar e a cozinha já está fechada.

Mestres do disfarce, talvez por isso elas achem que nós nunca sabemos quando estão rindo de mentirinha. Seja de uma piada sem graça ou de uma cantada sofrível e repetida ad infinitum.

Embora a gente perceba tão pouco o universo feminino, há duas coisas que conseguimos diferenciar a quilômetros de distância: sorrisos sinceros e mentiras sinceras. O resto a gente não entende, não adianta comprar brincos novos ou mudar o penteado.

A gente não precisa ser Roger Rabbit e tampouco elas parecem ter vocação para Jessica. Mas roda o mundo e giro pelo mundo, não consigo parar de questionar: por que os casais de hoje sorriem cada vez menos?

Em viagens nas quais não tenho compromissos formais, fica mais fácil olhar em volta. Talvez porque o intervalo onde deveria estar trabalhando é aquele intervalo onde podemos ganhar as ruas de urbes desconhecidas e abertas a forasteiros intrépidos e eventualmente insones.

Seja em restaurantes chiques de centolla ou bares imundos debaixo da marquise, casais que não sorriem sufocam as pessoas ao redor.

Exemplos são inúmeros, mais recente em viagem pelo deserto patagônico onde, curiosamente, há casais do mundo inteiro em lua-de-mel. Se olham, trocam algumas palavras, comentam sobre o gosto do cordeiro sul-americano. Procuro com os olhos, mesa por mesa, ninguém ri. Ninguém conta sequer uma piada de tomate.

No refeitório da empresa, na praça de alimentação do shopping, na fila do cinema, ninguém parece falar nada suficientemente engraçado para arrancar um sorriso sincero de mulheres tão lindas. Ou os homens se tornaram entes minerais ou as mulheres não encontram mais motivos para rir.

Em ambos os casos, me parece melhor dar um tiro na cabeça. Elas não acham mais graça em nada ou somos nós que não conseguimos fazê-las rir como antigamente?

Porque quando uma besteira engraçada se transforma em uma besteira estúpida na cabeça de uma mulher, não há muito a fazer. Se não conseguimos arrancar um simples sorriso, é melhor fazer a mochila e ir embora. Ou se igualar aos casais patagônicos.

Uma guia de turismo me perguntou se havia gostado de ver um elefante-marinho tão de perto. Com sono e de ressaca, apenas respondi que não, porque foi como me ver no espelho sem Photoshop.

Foi o riso mais sincero que vi no meio daquele mundão de gente. Assim como a piadinha ridícula, igualmente sincera. Elefantes-marinhos me deixam desconfortável diante de tamanha semelhança austral.

Talvez os gurus da auto-ajuda tenham dito às mulheres que é deselegante sorrir em público. Talvez as revistas femininas digam que sorrir para homens desconhecidos é promíscuo. Talvez vossas genitoras digam que sorrir para estranhos é perigoso. Talvez hoje a gente só saiba sorrir para foto no Orkut.

São tantos talvez e tão poucas risadas sinceras.

Estou para desligar o Word e finalmente embarcar após horas de atraso no check-in, chega-me uma miúda de seus cinco anos de idade, mais parece uma hiena tagarela quando me pergunta o que estou fazendo. Penso em responder “N-A-D-A” para fazer a pentelha ir embora, mas lembro dos elefantes-marinhos e apenas digo que estou escrevendo um manifesto sobre a falta de sorriso das pessoas. Terminou causando o mesmo efeito e ela foi embora. Ao longe vejo a suposta mãe olhando com um leve sorriso sincero e me pergunto se ela ouviu.

Uma mulher que não sorri deveria penhorar sua alma para outra. Porque mulheres lindas sem senso de humor não merecem a admiração que causam por onde passam.

No meu fantástico mundo de bobby particular, as mulheres lindas vão se tornar feias a cada sorriso de Orkut. E as mulheres feias serão as mulheres mais lindas para os homens que conseguem arrancar-lhes um sorriso sincero.

E haverá porções infinitas de galinha cabidela à espera de todos. Mesmo depois de fechada a cozinha.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Homens não ligam no dia seguinte

Estava eu folheando um semanário quando, de repente, leio uma propaganda de uma operadora de cartão de crédito que dizia mais ou menos assim: “perfume tal: 50 reais; vestido novo para a festa: 120 reais; ele ligar no dia seguinte: não tem preço”. Na propaganda, aparece uma mulher de roupão, deitada no sofá, com aquele sorriso que bate na testa, tamanha a satisfação.

Em minha impopular (porém imbatível) sensibilidade e romantismo de botequim da esquina, achei essa apelação um motivo suficiente para comentar sobre a pieguice neofeminista que prega o chavão de que nós, homens, seres humanos de duas cabeças impensantes, não gostamos de ligar no dia seguinte porque somos machistas, cafajestes, vulgares, biltres, infames e outros adjetivos ocasionalmente não muito falsos.


O interessante é a celeuma com a qual homens e mulheres criaram em torno da ligação no day after. Aquela velha ladainha: se fulano ligar é porque está interessado. Se fulano não ligar é porque só quis passar uma noite. Acredite: às vezes homem também tem dessas frescuras contemporâneas.

Outro dia li o depoimento de uma colega que resolveu se juntar ao meu protesto anti-neofeminista. Ela nos dá um exemplo ímpar sobre a lengalenga de esperar uma ligação no dia seguinte. Conta o caso de uma sicrana que saiu com o homem dos sonhos (que meigo), mas na hora de ele subir no apartamento dela (sem trocadilhos) para deixá-la na porta, ela não deixou ele entrar. Também sem trocadilhos, por favor.

Rolou aquele amasso básico encostados à porta etc e tal, mas a sicrana não quis que a primeira noite tivesse uma conclusão, digamos assim, mais carnal; ela achou melhor deixar para o segundo encontro. De cabeça baixa, em todos os sentidos, o cara foi embora e no dia seguinte a sicrana se preparou todinha (banho, perfume, orixás etc…) porque de noite, finalmente, ela ia abrir a porteira dela – agora com trocadilhos mesmo.

O fato é que o cara não ligou. Nem no dia seguinte, nem no posterior, nem no outro dia e nem nunca mais. E o celular dele sempre estava fora de área: louvado seja o bina, amém!

Chegamos então a um paradoxo comportamental. Caso a sicrana tivesse aberto a porteira no primeiro encontro e o cara não ligasse no outro dia, ela ia telefonar para todas as amigas dizendo que ele só queria saber daquilo, que era um cafajeste, um aproveitador, um pusilânime e tantos outros adjetivos eventualmente mais ou menos corretos. Isso como se ela também não estivesse a fim.

O cara não ligou e ela ficou sem tirar o atraso. Sem a intenção de explicitar conclusões precipitadas – cada um que abra e que feche a porteira quando bem entender – a história, que já deve ter acontecido com 99,9% das mulheres, serve para ilustrar como o convencionalismo da “ligação no dia seguinte” não é referência alguma a não ser uma pieguice inventada para tentar preencher frustrações contemporâneas.

As mulheres costumam dizer que ligar no dia seguinte é um sinal de respeito, de carinho, de que a noite anterior foi aprazível e interessante. Não há dúvidas de que elas têm razão. No entanto, de acordo com os estudos de campo realizados pela CRECA
- Centro Rebelal de Estudos Comportamentais Avançados – o buraco (da questão…) é mais embaixo.

Com o passar dos tempos, uma facção de neofeministas conseguiu gerar uma enorme algazarra em torno da ligação do dia seguinte, conseguiram transformar uma simples ação informal em um verdadeiro atestado de sentimento reconhecido em cartório.

Enfim, criaram um leviatã enorme cheio de ilusões sentimentalistas a ponto de fazer com que nós, seres dupla e irracionalmente encabeçados, simplesmente tenhamos pesadelos só de pensar em ligar no dia seguinte para em seguida receber, via sedex, um atestado de compromisso. Quando não um bilhete com o nome da igreja e do padre para o casamento. Ou seja, às vezes até queremos ligar para marcar a próxima visita na floresta. Só não queremos casar ou atestar compromisso em cartório, não por enquanto.

Como diria aquela antiga propaganda: a decisão é sua; a solução é nossa.

Se você, mulher livre, inteligente e cheia de amor para compartilhar, saiu com aquele cara dos sonhos e ele não ligou no dia seguinte, não venha jogar a culpa na gente. A culpa é daquelas poucas coleguinhas de vocês neofeministas frustradas que, na falta de [escreva o substantivo aqui], resolveram criar um certificado sentimental que é traduzido em um reles telefonema o qual muitas vezes, quando feito, não significa nada mais do que um método eficaz de despache.

Moral da história: se você sair com aquele cara super gente boa (eu inclusive, ok?) e, no fim da noite, você estiver a fim de passear de banana-boat tanto quanto ele de visitar a Amazônia, não pense duas vezes: tome uma atitude!

Pois, se no outro dia ele não ligar, pelo menos você não deixou a noite terminar no zero a zero e vai ter assunto para conversar com as amigas na mesa de bar.

A bronca será se ele pegar no seu pé, ligar o dia inteiro e você não querer atender… aí é quando a porca torcer o rabo, macaco fuma charuto e eu quero ver você continuar dizendo que homem é tudo safado.

Mulher Infeliz

Ela pode ser linda a ponto de a gente ficar horas em silêncio olhando para aquelas curvas e cheirando aquela pele. Mesmo assim, é difícil admirar uma mulher infeliz.

Não sabemos exatamente o porquê, mas hoje para onde olhamos parece só haver mulheres infelizes ou à espera de uma vida de novela. E a gente nem se parece com o Zé Mayer.

Quando estão sozinhas, é uma infelicidade imensa porque estão sozinhas.

Se jogam nas baladas, nos shows, nos cursos de todos os tipos, aulas de dança, ligam para amigas que nem lembravam mais (mas que conhecem muita gente) e assim passam os dias como se o escolhido da Matrix da vida delas fosse aparecer sempre hoje.

E o azar dela é sempre a sorte de um zé ruela.

Sim, porque sempre há um zé ruela de plantão. E o primeiro que aparece e liga no dia seguinte se transforma no dono da chave do seu coração da noite para o dia, a solução de todos os problemas tabajara. O desastre vindouro é amplamente conhecido de todas as mulheres do mundo, mas elas adoram um zé ruela.

O tempo passa e, entre tantos zé ruelas espalhados pela cidade, não é que às vezes aparece alguém interessante de verdade?

Depois de tanta infelicidade desta vida injusta e cruel, cai do céu um arataca joiado e brioso e tudo vira uma felicidade só. Geralmente é um cara engraçado, um pouco mais inteligente do que os zé ruelas da balada e sempre “menos bonito” do que elas admitem para as amigas ao telefone.

Os dias vão passar lindos e ensolarados até chegar uma tarde chuvosa e ela se fazer a pergunta mais antiga do universo-fêmea: a gente tem futuro?

Então a infelicidade começa a bater à porta.

Porque ela não entende que às vezes a prioridade na vida dos homens não é exatamente planejar os próximos 30 anos em comunhão matrimonial com o padre que batizou a família inteira, ter dois filhos galegos de olhos azuis, apartamento de três quartos, adega com vinhos para receber os amigos, plano de aposentadoria privada, férias todo ano e um cachorro (com pedigree) no quintal.

Nem sempre porque a gente não quer, nem sempre porque a gente não está apaixonado, nem sempre porque a gente não pensa sobre o futuro (sempre compramos o ingresso do jogo antecipado), mas apenas porque às vezes estamos calejados demais por nadar neste oceano de incertezas das relações humanas, de ir contra a lógica natural dos telhados de vidro e de um pseudo-futuro que adora nos passar a perna.

É claro que o discurso não adianta de absolutamente nada.

E tudo se transforma numa infelicidade só. Porque agora ela não está sozinha, mas se sente sozinha. E faz questão de repetir isso várias vezes, principalmente nas festinhas e nas baladas cheias de zé ruelas que as amigas vão levar.

O tempo vai passar, vai ser muita infelicidade injusta e cruel, tudo de novo, mas num belo dia de primavera não é que aparece uma criatura-macho ainda mais briosa e querendo praticamente tudo que ela quer e sempre sonhou?

Quer viajar junto, andar de mãos dadas, conceder as temíveis “mostras públicas de afeto” que as mulheres tanto adoram, fazer uns planinhos para o futuro, juntar um dinheiro para gastar nas férias dela, pensar na carreira dos dois e eventualmente a gente até faz uma cosquinha na orelha do vira-lata parado ali na esquina, tipo mensagem subliminar.

Agora para ela tudo é uma felicidade gigante, a gente também não cansa de admirar aquela mulher que consegue nos deixar tão leves e já nem achamos tão ridículo assim as trinta e duas temporadas do Sex and the City. Embora a gente continue preferindo o Rambo I, II, III e IV e não se importe de assistir sozinho de madrugada, pela vigésima quinta vez, enquanto ela ronca feito um trator de guerra com três parafusos soltos e depois reclama quando a gente faz o mesmo.

O tempo passa e ela parece a mesma bonequinha do primeiro dia que você a viu. O trabalho lhe leva para os lugares mais insólitos e você não cansa de pensar se ela gostaria de estar ali também.

Até uma noite de sábado como qualquer outro sábado de inverno, você regressa de viagem e ela prefere lhe esperar em casa em vez de ir ao aeroporto (muito trânsito, muito trabalho, muitos compromissos), já não lhe dá aquele abraço grande de saudade, já não planeja umas folgas em conjunto, já não compra as revistas de viagens, quer dizer, já não olha no Google uns lugares bacanas para ir.

Nem sempre porque ela não está com saudade, nem sempre porque ela não continua apaixonada, mas apenas para deixar bem claro que alguma coisa não está bem (embora ela ainda não saiba explicar o quê) e que ela não está feliz. Acendeu o sinal amarelo e agora você se sente na obrigação de ser engenheiro, matemático, químico e físico para consertar tudo e ter a resposta correta da inequação.

Não demora e ela começa a sair novamente com as amigas, você acha ótimo, sem saber que agora as saídas servem para lamentar alguns “pequenos detalhes” que ela não suporta mais no companheiro.

As roupas que você usa são “sempre as mesmas” e ela reclama que você às vezes sai de casa parecendo “um peixeiro do mercado São José”. E ela começa a ter vergonha, logo ela, que tanto lhe admirava, agora não aceita mais quando você chama a amiga de sirigaita. E reclama por você parecer um velho usando termos arcaicos feito sirigaita e usando camisas de botão que já perderam a cor.

De repente, suas piadas já não são mais tão engraçadas quanto antes. A raça de cachorro (grande, peludo e desastrado) que você sempre sonhou em ter desde criança não é a mesma raça que ela quer. E você prefere ouvir calado que isso ou aquilo podem se transformar num problema “sério” naquele tal de “futuro” em conjunto.

A infelicidade nem precisou pedir licença desta vez, entrou e toma conta da sala, do quarto e da cabeça dela. E no meio deste turbilhão cortês, um belo dia alguém faz a segunda pergunta mais antiga do universo-fêmea: quando vocês vão oficializar essa relação?

Como assim quando? E antes era o quê?

Pronto, voltamos à estaca zero da infelicidade cruel, injusta, sem tamanho, porque somente agora ela parece perceber que talvez as coisas tenham mudado e não foi uma mágica da noite para o dia, como se a gente fosse dormir apaixonado e acordasse zumbi de George Romero.

E em vez de aceitar ou admitir pequenas verdades em vez depequenas mentiras, é mais fácil achar que o amor acabou, que você não quer mais saber dela ou que está saindo com outra. No caso dela, às vezes é mais fácil fazer o mesmo também e migrar para outras praças.

Afinal, para cada mulher infeliz no mundo existe no mínimo trinta zé ruelas.

E a criatura volta a naufragar sem parar para pensar como uma estrada asfaltada começou a ter tantas curvas, tantos detalhes, tantas sinalizações, tantas patrulhas e tantas leis de trânsito em tão pouco tempo de construção.

Sempre parece mais fácil procurar respostas sem saber as perguntas, reclamar de tudo, de todos, da vida injusta, cruel, tumultuada, conturbada.

As mulheres felizes existem, claro.

Estão espalhadas pelos quatro cantos do planeta e são admiradas como só elas sabem ser. Algumas simplesmente nasceram assim, outras aprenderam com o tempo que as frustrações existem para serem enterradas, as alegrias para serem lembradas e o futuro para ser trilhado um passo de cada vez, devagar para não tropeçar.

Falar parece simples. Mas talvez o segredo das mulheres felizes seja justamente a simplicidade.

E elas apenas observam, de longe, as infelizes mulheres jovens, velhas, inexperientes, maduras, altas, baixas, pobres e ricas, todas perdidas à procura de um pacotinho de felicidade para cozinhar em três minutos. E às vezes até lembram que um dia elas já foram assim.

Novas estradas sempre vão surgir no horizonte e talvez novas mulheres nos façam passar horas olhando para elas em silêncio com o nariz por baixo daqueles cangotes cheirosos. Só que o tempo passa para todos e às vezes você já está cansado demais de andar em estradas tão irregulares e ter que parar no acostamento a cada dose de infelicidade alheia.

Enquanto o mundo das mulheres infelizes desaba, as mulheres felizes apenas sorriem.

E a gente quer sorrir com elas.

LOUCOS E SANTOS

Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila,
que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois os vendo loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que
"normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Mesmo Assim

As pessoas são irracionais, ilógicas e egocêntricas.
Ame-as MESMO ASSIM.

Se você tem sucesso em suas realizações,
ganhará falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Tenha sucesso MESMO ASSIM.

O bem que você faz será esquecido amanhã.
Faça o bem MESMO ASSIM.

A honestidade e a franqueza o tornam vulnerável.
Seja honesto MESMO ASSIM.

Aquilo que você levou anos para construir,
pode ser destruído de um dia para o outro.
Construa MESMO ASSIM.

Os pobres têm verdadeiramente necessidade de ajuda,
mas alguns deles podem atacá-lo se você os ajudar.
Ajude-os MESMO ASSIM.

Se você der ao mundo e aos outros o melhor de si mesmo,
você corre o risco de se machucar.
Dê o que você tem de melhor MESMO ASSIM.

terça-feira, setembro 14, 2010

MULHERES FORTES

Ah, como deve ser boa a vida das mulheres frágeis; elas sempre têm alguém que carregue os embrulhos, preencha o Imposto de Renda, troque o pneu do carro, e por aí vai.

As fortes fazem tudo sozinhas, e são sempre chamadas nas horas do aperto: elas aguentam qualquer tranco, e são tão fortes que se metem até mesmo onde não são chamadas, para ajudar a resolver os problemas dos outros. Elas acreditam no personagem, veja só.

É dura a vida das fortes, que não são poupadas de nada.

Se alguém está com uma doença grave, é a elas que vão contar; se a namorada do sobrinho ficou grávida, são as primeiras a saber, e quando alguém da família é preso com uma trouxinha de maconha, são imediatamente chamadas para as providências de praxe - fora os problemas financeiros, é claro.

Enquanto isso, os pais e mães desses jovens adoráveis estão tomando uma vodca na beira da piscina sem saber de nada - eles não aguentariam um choque desses e precisam ser poupados, porque são frágeis.

Existe sempre alguém para cuidar dos frágeis, seja um parente, um amigo, até um vizinho, que bate na porta preocupado com o silêncio e para saber se ela está precisando de alguma coisa. Uma mulher frágil é mais frágil que um recém-nascido, e como os homens adoram o papel de protetores - para se sentirem fortes e poderosos -, é a união perfeita da fome com a vontade de comer.

Quando elas ficam doentes, um verdadeiro exército é mobilizado; um leva revistas, o outro um embrulhinho com pêras, maçãs e uvas, e se ela não tem empregada não falta quem vá para a cozinha fazer uma canjinha.

Preste atenção que vai perceber que essas mulheres frágeis são indestrutíveis.

As fortes, na hora de uma crise de coluna, se arrastam até a geladeira para pegar um copo de água, e se alimentam o fim de semana inteiro com uma barra de chocolate, pois ninguém telefona para saber se precisam de alguma coisa. E elas, verdade seja dita, preferem morrer de inanição a pedir socorro, para não cair o tipo.
Há uma pesquisa a ser feita: uma mulher frágil nasce frágil ou escolhe essa profissão para se dar bem na vida? Por que elas se dão bem, e sempre encontram um homem - talvez ainda mais frágil do que elas - para cuidá-las, acarinhá-las e cuidar para que nada as atinja, nunca?

Afinal ela é tão frágil, coitadinha. Enquanto isso as fortes se acabam de trabalhar, e são elas que saem dos supermercados com pacotes de compras sem que ninguém se proponha a dar uma ajuda, mesmo que modesta.

Somos todos estimulados a ser fortes, mas boa vida mesmo levam as frágeis, daí a dúvida: não seria melhor que as mães, os pais e os colégios ensinassem as crianças a ser frágeis, pois sempre haverá alguém para cuidar delas pela vida toda? E aliás, qual a vantagem de ser forte, além de saber que um dia alguém se referiu a ela dizendo "aquela é uma mulher forte". Um grande elogio, é verdade. Mas e daí?

Toda mulher forte tem desejos secretos que não conta nem a seu travesseiro: que alguém - e não é preciso que seja um homem - faça um gesto por ela, de vez em quando. Nada de muito importante; apenas um cuidado, do tipo dizer que a está achando pálida, perguntar se tem se alimentado direito, pegar pelo braço e levar para tomar uma vitamina bem forte.

Sabe qual é o sonho dourado de uma mulher forte? Ter uma gripe com 38 graus de febre e poder ficar na cama. Mas para ela até ter uma gripe é difícil, pois uma mulher forte não adoece: e se isso acontecer, o mais difícil vai ser receber ajuda, pois uma mulher forte não deixa que ninguém faça nada por ela, mesmo precisando desesperadamente, para não passar por frágil. E é capaz de preferir se deixar morrer de tristeza, solidão e sofrimento a pedir socorro seja a quem for.

Como são frágeis, as fortes.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Ninguem

Sapato baixo, calça larga e cabelo preso. Esquentou e seus ombros tensos agradecem. Que cara bonita é essa? Já logo no elevador. Ah, devo ter dormido bem. Bom dia, bom dia. Olha, você está muito bonita hoje. Um fala, outro concorda. E pelos corredores, sorrisos dão continuidade aos elogios. O que é? Que segredo ela guarda? Que novidade é essa? Na cozinha perguntam: novo amor? No estacionamento perguntam: voltou com alguém? No restaurante, na hora do almoço: é alguém novo? Cruza com um namorado antigo “nossa, você tá muito... é o quê? Sexo? A noite toda? Conta, vai, eu agüento ouvir”. Contar o quê? No espelho, enquanto escova os dentes, fecha os olhos e sabe pra si o segredo: ninguém. Não gostar de ninguém. Nada. Nem um restinho de nada. Nem de tudo que acabou e nem de nada que possa começar. Nada. Pouco importa qualquer outra vida do mundo. Não é nem pouco, é nada mesmo. Um dia inteiro para achar gostosas coisas bobas como um pacote de pipoca doce, um tênis pink ou a hora do banho quente com músicas recém baixadas e o tapetinho vermelho. Um dia inteiro sem escravidão. O celular, o e-mail, o telefone de casa, o ar, o interfone, a rua. São o que são e não carrascos que nada dizem e nada trazem. Um coração calmo, se ocupando de mandar sangue para as horas felizes de trabalho, estudo, yoga, massagem, dormir, bobeiras, pilates, comer, rir, cabelo, filmes, comprar, trabalhar mais, ler, amigos . É isso. Uma agenda enorme que a ocupa de ser ela e não sobra uma linha de dia pra lamentar existências alheias. Linda, ela segue. Linda e feliz como nunca. O segredo do espelho, escovando os dentes, sozinha, aperta os olhos, segura a alma um pouco sem respirar. Segura a pasta pensando que é um pouco de alma consistente na boca. Não cospe, suporte. Ela pode finalmente suportar seu peso e não dividir isso nem com o ventinho que entra pela janela. Nem com o ralo que a espera boquiaberto. A sensação é a da manhã seguinte que o papai Noel deixava os presentes: não é mentira, é só um jeito de contar a verdade com algum encantamento.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Amores Mal Resolvidos

Olhe para um lugar onde tenha muita gente: uma praia num domingo de sol, uma estação de metrô, a rua principal do centro da cidade.
Metade deste povaréu sofre de dor de cotovelo.

Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estima, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos tem um amor mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.

Por que isso acontece?

Tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórico no assunto.

Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo.
Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim.
Você sabe, o amor acaba. É mentira dizer que não.
Uns acabam cedo, outros levam 10 ou 20 anos para terminar, talvez até mais. Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa: lembranças, amizade, parceria, parentesco, e essa transição não é dolorida se o amor for devorado até o fim.

Dor de Cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia, sem falar do tempo que ninguém tem para esperar. E tem que ser vivido em sua totalidade.

É preciso passar por todas as etapas:
atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim.

Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estarmos abertos para novos amores.

Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade, tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.

Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize.

Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo.

Isso é que libera a gente para Ser Feliz Novamente!!

TOP 5

AS 5 MELHORES COISAS SIMPLES DO MUNDO
--> Pão francês fresquinho com manteiga
--> Cheirinho de terra molhada.
--> Banho de mar
--> Dar três espirros seguidos.
--> Andar Descalça


AS 5 PIORES EXPRESSÕES
--> Obrigada por tudo
--> Desculpe qualquer coisa
--> Deus te pague
--> Pra ser bem honesta
--> Pelo incrivel que pareça


AS 5 MELHORES EXPLICAÇÕES DE ADRIANA FALCÃO
--> Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
--> Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
--> Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
--> Paixão é quando apesar da placa “perigo” o desejo vai e entra.
--> Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.


AS 5 MELHORES FRASES DE HOMER SIMPSON
--> Por favor, não me coma! Eu tenho mulher e filhos. Coma eles!
--> Não vamos entrar em pânico: vou conseguir dinheiro vendendo um de meus fígados. Posso viver com um só.
--> A vingança é um prato que se come três vezes ao dia.
--> Eu não bebo água. Os peixes transam nela.
--> A culpa é minha e eu ponho ela em quem eu quizer




OS 5 MELHORES POEMAS CURTOS DE MARTHA MEDEIROS
--> Quando dou pra ti
sou mulher.
Quando dou por mim,
solidão
--> Espelho, espelho meu
existe no mundo alguém
que reflita mais do que eu?
--> O que uma guitarra faz
nenhum rapaz comigo já fez.
--> Mesmo tendo juízo
não faço tudo certo.
Todo paraíso
precisa um pouco de inferno
--> Fica o dito
pelo maldito

AS 5 MELHORES FRASES EM LATIM SELVAGEM PARA O CARNAVAL
--> Urge copulatum ad empacotum est: vai comer aqui ou quer que embrulhe?
--> Caprina sine puditia: cabra sem-vergonha!
--> Orificium beborium proprietarium nulus: c… de bêbado não tem dono.
--> Tridum momescum finutum est: pra tudo se acabar na quarta-feira.
--> Vedi, vini; nulus copulatum: e não comemos ninguém!

segunda-feira, setembro 06, 2010

"PRECISA-SE"

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
...estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quem ficar como que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio ‘lo que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior A isso prefiro chamar desorganização pois não quero não me confirmar no que vivi — na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.