terça-feira, fevereiro 22, 2011

Pimenta ... (contribuição Talita Mafeçolli)

11/02/2011 - Pura sensação: pimenta dedo-de-moça
EDIÇÃO DE 11/02/2011 DO JORNAL NOTÍCIAS DO DIA,
por LUCIANE DAUX


Há quem diga que a pimenta é o tempero do amor, por acreditar que seja afrodisíaca. E há os que juram que ela afasta o mau-olhado. Eu acredito nas duas coisas e também que, bem colocada, pode ser um elemento bastante prazeiroso numa receita. Gosto especialmente daquela dedo-de-moça, que usaremos nas receitas de hoje. Sabendo que as partes mais picantes são as sementes e as membranas esbranquiçadas, retiro-as e uso somente a polpa.

Enxaqueca? Pimenta nela
“Assim que você ingere um alimento apimentado, a capsaicina ou a piperina ativam receptores sensíveis na língua e na boca. Seu cérebro, enganado pela informação (de fogo), inicia a fabricação de endorfinas, que permanecem um bom tempo no seu organismo, provocando uma sensação de bem-estar, uma euforia, um tipo de barato, um estado alterado de consciência muito agradável. Quanto mais ardida a pimenta, mais endorfina é produzida, menos dor e menos enxaqueca.” Dr. Alexandre Feldman, no livro Enxaqueca – só tem quem quer.


Para anotações quentes
Olha só! Que bonitinha essa caneta para a sua cozinha: por R$ 15,21
na WWW.mytoy.com.br

Com moderação
“As pimentas influenciam no perfume e persistência gustativa de um prato. Elas provocam uma sensação aromática/picante que, moderadamente, valoriza o gosto de um prato. Em excesso, no entanto, essa nota picante pode prevalecer no paladar e anular outras sensações gustativas do próprio prato ou de um vinho.” João Lombardo, jornalista, sommelier e apresentador do programa Pão e Vinho, da Record News/SC

Mais pimenta na coluna online do Jornal Notícias do Dia
Saiba como a pimenta combate a enxaqueca, e ainda: receita de Vatapá de Jorge Amado, e molho picante em WWW.ndonline.com.br/florianopolis/colunas

Colunistas mostram lado gourmet no Floripalegria
Ricardinho Machado, Luiza Gutierrez, Paulo Alceu, Léo Coelho, Claudia Gomes e eu, colunistas do ND, apresentaremos e serviremos receitas exclusivas, a base de arroz, no Floripalegria, que acontecerá dia 26/2 no P12, em Jurerê Internacional. A festa, que inicia as comemorações dos cinco anos do ND, terá atrações como o DJ Henrique Fernandes e show de Lulu Santos. Informações sobre compra de ingressos pelo fone 3284-8156.


Caipirinha de tangerina com pimenta
Um charme! Corte uma tangerina em fatias. Abra uma pimenta dedo-de-moça ao meio, retire as sementes e corte em fatias finas. Em um copo longo, junte duas colheres (sopa) açúcar com a tangerina e macere com um amassador. Adicione o gelo, a pimenta e 60ml de cachaça ou vodka. Com uma colher bailarina, misture bem de baixo para cima. Fonte: http://www.baraodrinks.blogspot.com/



Carne desfiada à mexicana
6 colheres (sopa) de óleo de soja
1 peça de lagarto de 1,5kg cortado em 6
4 dentes de alho picados
1 cebola picada
2 folhas de louro
Sal e pimenta do reino a gosto
2 pimentas dedo-de-moça sem sementes
Sal a gosto
2 pacotes de Doritos tradicionais

1. Em uma panela de pressão, murche a cebola e os dentes de alho. Acrescente a carne, folhas de louro e uma pimenta dedo-de-moça picada.
2. Cubra com água, tampe e leve para ferver por 50 minutos, após começar a ferver.
3. Desligue, deixe esfriar bem a panela antes de abrir.
4. Desfie a carne com a ajuda de dois garfos.
5. Sirva a carne com uma pimenta picada por cima e os doritos.

Paulo Motta/Divulgação

Camarões El Diablo MUITO PICANTE
Chef Jefferson Fonseca (Espaço Gourmet Gastronomia)
1,5 kg de camarões médios sem casca
50g de pimenta vermelha dedo-de-moça
Molho de pimenta vermelha Tabasco a gosto
200 ml de extrato de tomate
páprica picante
1/2 cebola picada
2 dentes de alho
conhaque para flambar
sal a gosto
salsinha picada
azeite de oliva

1. Corte as pimentas dedo de moça ao meio e retire as sementes, pique em quadradinhos.
2. Em uma frigideira aqueça o azeite, refogue a cebola e o alho, adicione as pimentas dedo de moça e em seguida grelhe os camarões, rapidamente.
3. Flambe com o conhaque e depois tempere com sal a gosto. Acrescente o extrato de tomate e deixe cozinhar por alguns minutos.
4. Acerte a picância com a pimenta tabasco e a páprica. Ao final decore com a salsinha picada.
5. Sirva com arroz ao leite de coco – aqui não tem receita, é só misturar um pouco de leite de coco durante o cozimento do arroz branco e mais um pouco ao final, se preferir mais cremoso.

Molho de pimenta
Para fazer um bom molho de pimenta caseiro, bata todos os ingredientes no liquidificador, e guarde-o na geladeira, em vidros bem fechados. Dica: tire as sementes da pimenta para um molho menos “quente”. Se for muito corajoso (a), deixe as sementes.
50g de pimenta dedo-de-moça
1 cebola branca
5 dentes de alho
1 lata pequena de extrato de tomate
2 cravos da índia
2 xícaras (chá) de vinagre de arroz
1 xícara (chá) de azeite de oliva
Sal a gosto

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Nem Todos Dizem Eu Te Amo

É a frase que mais desejamos ouvir na vida, e não da boca de nossa mãezinha. Eu te amo. Imagine escutar essas três palavrinhas mágicas ditas pelo cara que você desejou desde o primeiro dia em que o viu e que só foi reparar em você anos depois. Ouvir da gata mais linda da cidade, aquela que você pensou que nunca te daria bola. Ouvir do seu namorado caladão, cuja voz está sempre vários decibéis abaixo da humanidade. Ouvir da sua namorada que jura nunca ter dito isso pra ninguém antes. Te amo. É de deixar qualquer um pulando num pé só. Porém, é difícil encontrar alguém que saiba usá-la com uma freqüência razoável. Ou essa frase é dita de cinco em cinco minutos, banalizando-se, ou é dita de cinco em cinco anos, e ninguém agüenta esperar tanto. Você deve conhecer um casal assim: não desligam o telefone antes de se afogarem em declarações: "te amo", "eu também", "diz a frase completa", "eu também te amo", "te amo também". O amor é lindo, portanto, perdoa-se tanto mel. Pior é quando o diálogo que vem antes é completamente sem romantismo: "Luciana, você pegou a chave do meu carro?" "Eu nem sei dirigir, Antônio" "Droga, vê se eu não deixei do lado do cinzeiro" "Tem dó, Antônio, tô saindo de casa" "Custa você me dar essa força?" "Não tá do lado do cinzeiro, já olhei" "E embaixo da cama?" "Capaz que vou me ajoelhar pra olhar lá embaixo, tô de meia-calça nova!" "Muito obrigado, viu?" "Irônico" "Imprestável" "Vê se não me amola, tchau, te amo". Despedidas mecânicas. Um "te amo" dito por hábito perde todo o sentido, é só mais uma frase, como "me passa o sal". Nada nos deixa mais carentes do que ouvi-la 500 vezes, como se estivéssemos namorando um papagaio bem treinado. Minto: tem, sim, uma coisa pior. Não ouvir nunca. Vocês namoram há um ano, transam, viajam juntos, ele devora você com os olhos e nunca passou do "eu te adoro". A revista Capricho fez uma reportagem sobre isso. Medo de comprometer-se, foi a conclusão. Compreende-se, mas uma vezinha só não mata. O que eles pensam, que serão transportados para um altar assim que terminarem a frase? Bobagem. O máximo que essa frase consegue é nos transportar para as nuvens. Se você ama alguém, diga, e não esqueça de apertar o cinto antes de decolar.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Perigo: gente mal amada

Tenho vontade de furar os olhos de quem não distingue honestidade de grossura, que se acha corajoso por falar o que pensa quando, em realidade, não pensa: é apenas uma incubadora de pré-conceitos. Ignorância sempre foi amiga íntima de certezas totais.

Gente que não entende a linha tênue que separa argumentos de insultos.

Me dá ganas de enfiar agulhas debaixo das unhas de seres estúpidos a ponto de achar que o mundo é um conglomerado de estúpidos: jogar todos na vala comum é, para eles, o único meio de se destacar. Como carecem de importância própria, ganham alguma à medida que elegem como alvo quem realmente tem a sua. Parasitas.

Gentinha mal amada é traiçoeira. A princípio, podemos achá-las divertidas: costumam ser comicamente cri-cris, falando mal de tudo, de todos. Caricaturas, viram passatempo, como assistir a um filme muito ruim. Com o tempo, depois de perder todos os amigos e qualquer vestígio de vida sexual não-remunerada, vem o azedume. Então, tudo o que resta a elas é se segurar em sua própria mesquinhez: acentuam o tom raivoso, se auto intitulam o último bastião do bom senso e da verdade, atacam a tudo e a todos, dão descarga na sanidade. Neste ponto, algumas pessoas correm o risco de ficar com pena da evidente doença social do pobre coitado. Eu, não. Eu tenho vontade de bater com pau de macarrão. Porque se existe algo que não tolero, é escrotidão, principalmente quando vem travestida com a esfarrapada desculpinha “Não sou hipócrita” ou “sou intenso, e daí?” ou, a pior de todas, ” esta é minha personalidade”.

Chucu, isso não é personalidade: é falta de terapia.

Mas, cuidado: mesmo sendo dignos de pena, os mal amados são realmente perigosos. Se bobearmos, acabamos contaminados por seus tentáculos venenosos repletos de doses mortais de inveja, ódio, pessimismo, arrogância, falta de sexo. E daí, os mal amados terão sua vitória: farão mais um ser tão miserável quanto eles mesmos

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Felicidade é uma questão de perspectiva

Períodos de recuo são essenciais, nos forçam a enxergar a situação sob outro prisma, com mais frieza e, por isso mesmo, isenta dos colossais erros de julgamento que a intensidade e a bile nos levam a cometer. “O lugar mais escuro é sempre debaixo da lâmpada” .

O mais notável em nos distanciarmos vez por outra do que é nos importa, nos confunde, é sentir o que esse redimensionamento causa. E seja o que for, a retomada nunca é insípida: ou nos faz enxergar a placa de “rua sem saída” que teimávamos não ver ou, feito polimento em prata, devolve o brilho ao que o tempo havia enegrecido. Talvez por isso alguns casais só se entendam depois de uma separação: a dor, a sensação de ficar sem centro gravitacional, não ter mais ali ao lado quem se ama, pode provocar verdadeiros milagres na dinâmica de uma vida em comum (e na vida solo).

Mas não podemos contar com milagres, precisamos da razão. O problema é que nossa suposta sapiência tende a sub-avaliar o que se tem ou (talvez seja pior), exagerar na importância e, se quisermos ser felizes, é inútil proclamar independência emocional ou tornar-se escravo das paixões. Qualquer extremismo nos isola—e, curiosamente, é só dando um pequeno mergulho na solidão que compreendemos o valor do que nos rodeia e mora dentro de nós. Depois de sofrer feito o cão por encarar tudo na base do oito ou oitenta, fiz um pacto comigo mesma: jamais levaria coisa alguma a ferro e fogo porque nada importa tanto. Absolutamente nada é imprescindível. Nem ninguém.

Esse não é um discurso de auto-suficiência, pelo contrário, é uma reflexão de alguém que aprendeu na porrada (ou melhor, no choro) que só relativizando, tornando a existência e o coração mais leves, é que se pode ser feliz e, então, ser feliz com alguém. Pare de arrastar correntes, levar tudo tão a sério: a única coisa que você vai conseguir é uma úlcera.

Cuide de quem ama mas não faça disso o objetivo da sua vida porque ficará, inevitavelmente, frustrado quando não tiver deles o que deu pra eles. Ou não tiver deles o que você ACHA que eles deveriam devolver. E será bem feito: você fez o que quis, porque quis, então não venha reclamar o troféu. Não existe prêmio para quem doa amor. Ainda bem.

Por isso, distanciar-se deveria ser uma tarefa cotidiana: evitaria que fôssemos sugados pelo redemoinho que sempre começa logo ali nos nossos pés, mas estamos ocupados demais pra ver. Evitaria que exercêssemos de forma tão eficaz, e perigosamente despercebida, nossos piores defeitos. Quando algo começar a te enlouquecer, enfernizar ou surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo em relação a ela, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passam despercebidos. Então notará que ela é muito mais do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos seus olhos.

Ser feliz não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

{...} mal que é o bom.

{ }
Sim, quero a palavra última que também é tão primeira que já se confunde com a parte intangível do real. ainda tenho medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou em um estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo. Parece com momentos que tive contigo, quando te amava, além dos quais não pude ir pois fui ao fundo dos momentos. É um estado de contato com a energia circundante e estremeço. Uma espécie de doida, doida harmonia. Sei que p meu olhar deve ser o de uma pessoa primitiva que se entrega toda ao mundo, primitiva como os deuses que só admitem vastamente o bem e o mal e não querem conhecer o bem enovelado como em cabelos no mal, mal que é o bom.

Água Viva.

Quando eu Chegar ao Céu

Quando eu chegar ao Céu, de manhã, de tarde ou de noite, não sei ainda, pedirei para ir à biblioteca de Deus, onde curiosamente bisbilhotarei — com respeito — algumas obras. Quero reler a Invenção de Orfeu, de nosso Jorge de Lima, sofredor, telúrico e místico, homem bom, cirenaico, assim lhe chamou Rachel de Queiróz, quando ele morreu, novembro, 15, do ano de 1953. E pedirei, sim, para conversar com Manu, Manuel Bandeira, que se chamava Neném. Matarei saudades do dentuço Manuel, que foi o melhor ser humano que conheci, neste mundo. E gostaria de conhecer Chiquita do Rio Negro, que recusou casar se com Ataulfo Nápoles de Paiva, conviva do baile da ilha Fiscal. Escrevi sobre Chiquita. Li a sua biografia, escrita por Garrigou-Lagrange. Meu Deus, convocaria Jaime Ovalle, o tio Nhonhô, que morreu com a idade de Jorge de Lima. Ali, na biblioteca do Céu, conheceria o estupendo Ovalle, o do Azulão, o bêbedo místico, o amigo de Manuel, íntimo de Londres e de Nova York. Por fim, suplicaria para falar com João Guimarães Rosa, poliglota, com quem tão poucas vezes falei. E evocaria a posse do seu sucessor, na Casa de Machado. Esqueci-me completamente dessa posse, ai de mim. E fui. Lá estava eu, 1968. Um ano depois da morte de Rosa. Mário Palmério falou sobre ele, como seu herdeiro. E gostei tanto do discurso, equilibrado, lúcido, original. Se me lembro. Foi procurar cartas íntimas de Rosa para grande amigo, médico e fazendeiro em Minas, Moreira Barbosa. Cartas de outrora. Deliciosas, fraternais, confiantes, de pura entrega. Reveladoras do ser complexíssimo, fechado, carente, que gostava de disfarçar, despistar, ir e vir, comensal do mistério. Saudarei a uns e outros na largueza dadivosa do Céu, turbilhão de amor, como dizia o insaciável Léon Bloy.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Negue O Quanto Quizer

Quem é que nunca teve um Marcelo, um Felipe, um Ricardo, um André ou um Alexandre na vida?
Tudo bem, pode ser uma Juliana, uma Ana, uma Patrícia ou uma Aline...
Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa!
Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo!
A "fila" anda, a coleção de "figurinhas" cresce, a conta de telefone é sempre altíssima. Mas e ai? O que isso te acrescenta? Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca logo na sua vida??? Se o tal "amor" é impontual e imprevisível que se dane! Não adianta: as pessoas são impacientes! São e sempre vão ser! Tem gente que diz que não é... "Eu não sou ansioso, as coisas acontecem quando tem que acontecer." Mentira!
Por dentro todo ser humano é igual: impaciente, sonhador, iludido... Jura de pé junto que não,mas vive sempre em busca da famosacara metade! Pode dar o nome que quiser: amor, alma gêmea, par perfeito, a outra metade da laranja... No fim dá tudo no mesmo. Pode soar brega, cafona... Mas é a realidade.
Inclusive o assunto "amor" é sempre cafonérrimo. Acredito que o status de cafona surgiu porque a grande maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de viver um grande amor. Poucas pessoas experimentaram nesta vida a sensação de sonhar acordada, de dormir do lado do telefone, de ter os olhos brilhando, de desfilar com aquele sorriso de borboleta azul estampado no rosto...
Não lembro se foi o "Wando" ou se foi o "Reginaldo Rossi" que disse em uma entrevista que se a Marisa Monte não tivesse optado pelo "Amor I love you" e que se o Caetano não tivesse dito "Tô me sentindo muito sozinho.." eles não venderiam mais nenhum disco.
Não adianta, o publico gosta e vibra com o "brega".
Não adianta tapar o sol com a peneira. Por mais que você não admita: você ficou triste porque o Leonardo di Caprio morreu em "Titanic" e ficou feliz porque a Julia Roberts e o Richard Gere acabaram juntos em "Uma Linda Mulher"; existe pelo menos uma música sertaneja ou um "pagodinho" que te deixe com dor de cotovelo; quando você está solteiro e vê um casal aos beijos e abraços no meio da rua você sente a maior inveja; você já se pegou escrevendo o seu nome e o da pessoa pela qual você está apaixonado no espelho embaçado do banheiro, ou num pedacinho de papel; você já se viu cantando o mantra "Toca telefone toca" em alguma das sextas-feiras de sua vida, ou qualquer outro dia que seja; você já enfiou os pés pelas mãos alguma vez na vida e se atirou de cabeça numa "relação" sem nem perceber que você mal conhecia a outra pessoa e que com este seu jeito de agir ela te acharia um tremendo louco; você, assim como nos contos de fada, sonha em escutar um dia o tal "E foram felizes para sempre"
Bem , preciso continuar?
Ok, acho que não... Negue o quanto quiser, mas sei que já passou por isso, e se não passou, não sabe o quanto esta perdendo...."O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda chance"
"Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos."

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Existe versão saudável de workaholic

Jornadas intermináveis de trabalho e tempo escasso para lazer e descanso. Rotina típica de workaholic, certo? Não, pode tratar-se do oposto: rotina de worklover. O conceito foi criado pelo psicólogo Wanderley Codo, coordenador do Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília, que identifica uma fartura de worklovers no Brasil --de executivos a encanadores. Leia a entrevista.

Folha - Em que o senhor se baseou para desenvolver o conceito de worklover?

Wanderley Codo - Esse termo vem sendo construído a partir das pesquisas que temos feito desde 1979. Sempre que fazemos o diagnóstico do trabalho, encontramos pessoas extremamente apaixonadas pelo que fazem. Mas foi há cerca de dois anos que passamos a usar o termo em contraposição a workaholic e também como uma crítica a ele, porque o que começou a ser difundido é que qualquer pessoa que trabalhasse muito era um viciado e a gente apostava que não. Há quem, simplesmente, goste muito do trabalho, inclusive daqueles considerados chatos, e que não é viciado nem usa o trabalho como um meio para fugir da vida, mas é uma pessoa com uma vida afetiva regular e satisfatória.

Folha - Como definir o worklover?

Codo - Uma pessoa que pode perceber o poder de transformação de si mesmo e do mundo que o trabalho tem. Deus criou o mundo à sua imagem e semelhança, e cada homem vê o mundo à sua imagem e semelhança. O trabalho é que permite isso. O trabalho do marceneiro faz com que se transformem árvores em mesas e, ao fazer mesas, o profissional muda o mundo e muda você também. Quando você se senta à mesa, você deve um tributo ao marceneiro. Quer achar fácil um worklover? Pergunte para alguém o que faria se ganhasse na loteria. A pessoa dirá que viajaria, compraria carro, mas que continuaria trabalhando exatamente naquilo que trabalha.

Folha - Há profissões mais propensas à existência de worklovers?

Codo - As que são menos alienadas, nas quais o indivíduo é capaz de saber o significado de seu trabalho. Professores, cientistas, artistas, jornalistas, executivos ou biscateiros, como pedreiros e encanadores. Um encanador que não trabalhe dentro de fábrica é uma pessoa que tem conhecimento e controle do processo. Ao ser chamado para resolver um cano entupido, por exemplo, saberá detectar o problema, fazer o diagnóstico e resolvê-lo. Assim ele deixa você feliz e o transforma. Se esse encanador tiver uma relação alienada com o trabalho, na obra de um prédio, por exemplo, ganhando um salário de R$ 300 e simplesmente obedecendo a ordens sem entender o motivo, ele terá dificuldade de se conscientizar da transformação que está realizando. Ele faz a transformação, quer queira, quer não, mas precisa ter alguma consciência.

Folha - Há worklovers em trabalhos mecânicos?

Codo - Sim. Muitas vezes o trabalhador tem uma consciência mágica: estou colocando este cano aqui porque preciso sofrer para ir para o céu. É uma alienação. É uma saída mágica que ele encontrou e que, de alguma forma, o realiza. São casos mais raros, mas acontecem. Da mesma forma, você pode encontrar alguém que fica apertando o mesmo parafuso oito horas por dia e ama esse trabalho. Fazer tricô, por exemplo, é rotineiro, sempre o mesmo movimento, no entanto, é muito criativo e prazeroso. A pessoa quer dar um presente para o neto. É bonito isso, porque ela transmite o afeto para o outro por meio do produto do seu trabalho. Ao escrever uma reportagem, você está, de certa forma, transmitindo afeto para a humanidade --pode ser afeto negativo, se você não gosta da humanidade.

Folha - Quais as diferenças entre os work-lovers e os workaholics?

Codo - Os dois trabalham demais, tendem a se envolver muito no que fazem. Na superfície são idênticos, mas, se você chega perto, as diferenças aparecem. No plano do significado, do sentido que o indivíduo tem do trabalho, a coisa é totalmente oposta. O workaholic trabalha porque não pode viver, não pode levar sua vida. O worklover trabalha porque gosta disso e pode, perfeitamente, gostar da mulher, de sexo, da vida dele fora do trabalho. Aliás, existem pesquisas mostrando que pessoas altamente dedicadas ao trabalho também são indisciplinadas com relação a ele. Não necessariamente chegam na hora, porque são pessoas que têm um vínculo com o trabalho de outro tipo. Eu tenho um pesquisador no laboratório que volta e meia não vem trabalhar de manhã. Pergunto por que e descubro que ele ficou no computador resolvendo um problema nosso até de madrugada no dia anterior. E o bom administrador sabe que esse cara está cuidando da vida e não fica cobrando horário.

Folha - No Brasil, há uma estimativa dos worklovers?

Codo - Por paradoxal que pareça, numa situação mais pobre economicamente, o trabalho se torna mais informal e, logo, menos alienado. Então há muita gente no Brasil que adora seu trabalho. É um dos povos que mais trabalham no mundo. A tendência, portanto, é afirmar que muitos brasileiros são felizes.

Folha - Qual a importância do trabalho para o homem?

Codo - É ele que nos constrói. É através dele que a gente olha no espelho e se reconhece. É algo muito prazeroso e, quando não é, alguma coisa está errada.

Wanderley Codo, 53, coordena o Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB)

O que é amar alguém?

Jamais soube, verdadeiramente, o que significava amar. Não o amor oferecido amigos, família—esse é fácil de distinguir, seja pela força do sangue ou pelo poder agregador da história em comum. Nunca consegui identificar os indícios da existência do amor quando o envolvido era aquele que entrava na minha vida e permanecia, mudando tantas coisas, acertando outras tão desarrumadas há tempos, adicionando complicações e prazeres. A incerteza estava sempre lá, questionando se aquilo era amor ou apenas uma sensação prolongada de satisfação que, fatalmente, acabaria. E, se acabasse, teria sido amor?

Em algum canto de mim morava a certeza tolamente romântica de que, quando se tornase realidade, ele curaria minha ansiedade inerente e instalaria a tranquilidade tão desejada, necessária. Mas isso não aconteceu. Nunca uma pessoa apaziguou meu tumulto. Então teria sido amor?

Os fatos-- tão repletos de ausência de sentido em tantos momentos-- que me deixam incrédula, rancorosa, triste, seriam apenas pequenos contratempos sem importância comparados ao brilho e a dimensão que a entrada do amor daria a minha vida. Alguns homens passaram por mim, mas a ocasional frustração e raiva causadas por palavras ferinas e atos escusos – e a inevitável decepção atrelada a eles-- nunca deixou de me assolar. Se a presença de nenhum deles tornou insignificante minha angústia, teria sido amor?

Jamais desejei, com urgência e paixão uterinas, ter filhos com um homem nem sonhei com uma grande mesa repleta de netos, noras e genros. Também não me imaginei, idosa, ao lado dele a passear pela rua. E me senti uma sub-espécie de mulher, isolada do resto da humanidade portadora de belos desejos a longo prazo: se nunca vislumbrei esse futuro conjunto, teria sido amor?

Demorei para aprender, mas hoje compreendo o significado de amar. O meu significado. Amar alguém é curtir o correr dos dias ao lado dele, tirando, a cada oportunidade, o peso devastador das expectativas, porque é da leveza que nasce a harmonia. É sentir (e não saber—o que faz toda a diferença) que ele precisará da minha ajuda tanto quanto eu de um ombro para descansar; que o fim não mede a beleza de uma relação, assim como a morte não anula quem fomos; que nada, nem ninguém, arrancará de mim as sensações que me fazem ser quem sou (e que precisarei, sozinha, não destruí-las, mas lidar com elas); entender que a obrigação de me salvar é absolutamente minha.

Amar alguém é ter a liberdade de ser.

Iemanjá

Iemanjá (yemanjá), a Rainha do Mar, mãe de quase todos os orixás, é exaltada por negros e brancos. Iemanjá, possui vários nomes: sereia do mar, princesa do mar, rainha do mar, Inaé, Mucunã, Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Sereia, Maria, Dona Iemanjá; dependendo de cada região, mas sua origem vem da África. "A Iemanjá brasileira é resultado da miscigenação de elementos europeus, ameríndios e africanos".


"Afrodite brasileira", Iemanjá é a padroeira dos amores e muito solicitada em casos de desafetos, paixões conflituosas, desejos de vinganças, tudo pode ser conseguido caso ela consinta. Iemanjá exerce fascínio nos homens, sua beleza é o esteriótipo da beleza feminina: Longos cabelos negros, feições delicadas, corpo escultural e muito vaidosa.


Têm poderes sobre todos aqueles que entram em seu domínio, o mar. Venerada e respeitada por pescadores e todos aqueles que vivem no mar, pois a vida dessas pessoas estão em suas mãos, segunda a lenda é ela quem decide o destino das pessoas que adentram seu império: enseadas, golfos e baías. Dona de poderes, a tranquilidade do mar ou as tempestades estão sob o seu domínio.



No sincretismo religioso, Iemanja tem identidade correspondente a outros santos, como na igreja católica é Nossa Senhora de Candeias, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Piedade e a Virgem Maria.
Em cada lugar do Brasil Iemanjá é festejada, mas as datas diferem de um lugar para outro. No Rio de Janeiro seu culto é festejado no dia 31 de Dezembro, junto a passagem de ano, ondes os devotos oferecem oferendas: Velas, espelhos, pentes, flores, sabonetes e perfumes... na esperança de que ela leve todas as tristezas, problemas e aflições para o fundo do mar e traga dias melhores. Na Bahia sua data é comemorada no dia de Nossa Senhora das Candeias, 2 de fevereiro. Venerada nos Candomblés da Bahia, recebe muitas homenagens e oferendas.


Iemanjá também é conhecida como deusa lunar, rege os ciclos da natureza que estão ligados a água e caracteriza a "Mudança", na qual toda mulher é submetida devido a influência dos ciclos da lua.


Mãe de quase todos os órixas, é a deusa da compaixão, do perdão e do amor incondicional.

Casada com Oxalá, Iemanjá é o arquétipo da maternidade. Outras vezes Iemanjá continua bela, mas pode apresentar-se como a Iara, metade mulher, metade peixe, as sereias dos candomblés do caboclo.


Nota: Em Cuba, Yemayá também possui as cores azul e branca, é uma rainha do mar negra, assume o nome cristão de La Virgen de la Regla e faz parte da Santeria como santa padroeira dos portos de Havana.

MITOLOGIA

LENDA (Arthur Ramos)

Com o casamento de Obatalá, o Céu, com Odudua, a Terra, que se iniciam as peripécias dos deuses africanos. Dessa união nasceram Aganju, a Terra, e Iemanjá (yeye ma ajá = mãe cujos filhos são peixes), a Água. Como em outras antigas mitologias, a terra e a água se unem. Iemanjá desposa o seu irmão Aganju e tem um filho, Orungã.

Orungã, o Édipo africano, representante de um motivo universal, apaixona-se por sua mãe, que procura fugir de seus ímpetos arrebatados. Mas Orungã não pode renunciar àquela paixão insopitável. Aproveita-se, certo dia, da ausência de Aganju, o pai, e decide-se a violentar Iemanjá. Essa foge e põe-se a correr, perseguida por Orungã. Ia esse quase alcançá-la quando Iemanjá cai no chão, de costas e morre. Imediatamente seu corpo começa a dilatar-se. Dos enormes seios brotaram duas correntes de água que se reúnem mais adiante até formar um grande lago. E do ventre desmesurado, que se rompe, nascem os seguintes deuses: Dadá, deus dos vegetais; Xango, deus do trovão; Ogum, deus do ferro e da guerra; Olokum, deus do mar; Oloxá, deusa dos lagos; Oiá, deusa do rio Niger; Oxum, deusa do rio Oxum; Obá, deusa do rio Obá; Orixá Okô, deusa da agricultura; Oxóssi, deus dos caçadores; Oké, deus dos montes; Ajê Xaluga, deus da riqueza; Xapanã (Shankpannã), deus da varíola; Orum, o Sol; Oxu, a Lua.

Os orixás que sobreviveram no Brasil foram: Obatalá (Oxalá), Iemanjá (por extensão, outras deusas-mães) e Xango (por extensão, os outros orixás fálicos).

Com Iemanjá, vieram mais dois orixás yorubanos, Oxum e Anamburucu (Nanamburucu). Em nosso país houve uma forte confluência mítica: com as Deusas-Mães, sereias do paganismo supérstite europeu, as Nossas Senhoras católicas, as iaras ameríndias.

A Lenda tem um simbolismo muito significativo, contando-nos que da reunião de Obatalá e Odudua (fundaram o Aiê, o "mundo em forma"), surgiu uma poderosa energia, ligada desde o princípio ao elemento líquido. Esse Poder ficou conhecido pelo nome de Iemanjá.

Durante os milhões de anos que se seguiram, antigas e novas divindades foram unindo-se à famosa Orixá das águas, como foi o caso de Omolu, que era filho de Nanã, mas foi criado por Iemanjá.

Antes disso, Iemanjá dedicava-se à criação de peixes e ornamentos aquáticos, vivendo em um rio que levava seu nome e banhava as terras da nação de Egbá.

Quando convocada pelos soberanos, Iemanjá foi até o rio Ogun e de lá partiu para o centro de Aiê para receber seu emblema de autoridade: o abebé (leque prateado em forma de peixe com o cabo a partir da cauda), uma insígnia real que lhe conferiu amplo poder de atuar sobre todos os rios, mares, e oceanos e também dos leitos onde as massas de águas se assentam e se acomodam.

Obatalá e Odudua, seus pais, estavam presentes no cerimonial e orgulhosos pela força e vigor da filha, ofereceram para a nova Majestade das Águas, uma jóia de significativo valor: a Lua, um corpo celeste de existência solitária que buscava companhia. Agradecida aos pais, Iemanjá nunca mais retirou de seu dedo mínimo o mágico e resplandecente adorno de quatro faces. A Lua, por sua vez, adorou a companhia real, mas continuou seu caminho, ora crescente, ora minguante..., mas sempre cheia de amor para ofertar.

A bondosa mãe Iemanjá, adorava dar presentes e ofereceu para Oiá o rio Níger com sua embocadura de nove vertentes; para Oxum, dona das minas de ouro, deu o rio Oxum; para Ogum o direito de fazer encantamentos em todas as praias, rios e lagos, apelidando-o de Ogum-Beira-mar, Ogum-Sete-ondas entre outros.

Muitos foram os lagos e rios presenteados pela mãe Iemanjá a seus filhos, mas quanto mais ofertava, mais recebia de volta. Aqui se subtrai o ensinamento de que "é dando que se recebe". Fonte: Deusa Iemanjá


Iemanjá Rainha do Mar

Cantada por Maria Bethânia
Composição: Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro



Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?

Dandalunda, Janaína,
Marabô, Princesa de Aiocá,
Inaê, Sereia, Mucunã,
Maria, Dona Iemanjá.

Onde ela vive?
Onde ela mora?

Nas águas,
Na loca de pedra,

O que ela gosta?
O que ela adora?

Perfume,
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar.

Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?

Alodê, Odofiaba,
Minha-mãe, Mãe-d'água,
Odoyá!

Qual é seu dia,
Nossa Senhora?

É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar.

O que ela canta?
Por que ela chora?

Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar.

Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?

Pescador e marinheiro
que escuta a sereia cantar
é com o povo que é praiero
que dona Iemanjá quer se casar.

Meu respeito e admiração pela cultura e a crença.

Saudação à Iemanjá, a Rainha do Mar: Odô-fe-iaba! Odô-fe-iaba! Odô-fe-iaba!

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Não Basta a Indignação

Estamos indignados. Mas o perigo da indignação é que ela nos purifique e nos alivie. Que nos faça esquecer que a tragédia tem dois lados. Nossa tragédia é a incapacidade total que temos demonstrado para combater o crime. O inimigo não é só o tráfico. O inimigo é também a desorganização, a falta de verbas, de armas, a falta de vontade política e de imaginação para lutar essa guerra suja, porque é uma guerra. O crime no Rio e em São Paulo não se combate com batidas policiais, espasmos que cessam quando passa a crise do momento. Assim nunca ganharemos. O crime tem as verbas do pó, das armas, o crime é rápido - tem a vantagem de não ter burocracia. Não adianta só subir morro. A solução começa pela vigilância das fronteiras, passa por uma imensa estratégia policial. E militar. O tamanho do problema exige uma imensa solução. Precisamos de um estado maior contra o crime. Que assuma que uma guerra já foi declarada.

Cardápio Existencial

-E se a vida for como um cardápio? A pergunta pegou Rosinha de surpresa. Ela levantou os olhos do menu e se deparou com o marido em estado reflexivo. -Ora, Alfredo, deixe de filosofar e escolha logo o seu prato. Os dois haviam saído para jantar e estavam na varanda do Bar Lagoa, de onde se pode ver um cantinho de céu e o Redentor. -Rosinha, pense nas conseqüências do que estou dizendo. Se a vida for como um cardápio, nós talvez estejamos escolhendo errado. No lugar da buchada de bode em que nossas vidas se transformaram, poderíamos nos deliciar com escargots. Experimentar sabores novos, mais sofisticados... -Por que a vida seria como um cardápio, Alfredo? Tenha dó. -E por que não seria? Ninguém sabe de fato o que é a vida, portanto qualquer acepção é válida, até prova em contrário. -Benhê, acorda. Ninguém vai aparecer para servir o seu cardápio imaginário. Na vida, a gente tem que ir buscar. A vida é mais parecida com um restaurante a quilo, self-service, entende? -Boa imagem. Concordo com o restaurante a quilo. É assim para quase todo mundo. Mas quando evoluímos um pouco, chega a hora em que podemos nos servir a la carte. Rosinha, nós estamos nesse nível. Podemos fazer opções mais ousadas. -Alfredo, se você está querendo aventuras, variar o arroz com feijão, seja claro. Não me venha com essa conversa de cardápio existencial. Além disso, se a nossa vida virou uma buchada de bode, com quem você pensa experimentar essa coisa gosmenta, o tal escargot? -Querida, não reduza minhas idéias a uma trivial variação gastronômica. Minha hipótese, caso correta, tem implicações metafísicas. Se a vida for como um cardápio, do outro lado teria que existir o Grand Chef, o criador do menu. -Alfredo, fofo, agora você viajou na maionese. É o cúmulo querer reconstruir o imaginário religioso baseado no funcionamento de um restaurante. Só falta você dizer que nesse seu céu, os anjos são os garçons! Nesse momento, dois chopes desceram sobre a mesa. Flutuaram entre as mãos alvas, quase diáfanas, de um dos velhos garçons do Bar Lagoa. Alfredo e Rosinha trocaram olhares de espanto e antes que pudessem dizer que ainda não haviam pedido nada, o garçom falou com voz grave: -Cortesia da casa. Já olharam o cardápio?